O presidente da Enel Ceará, José Nunes de Almeida Neto, participou nesta quarta-feira (24) de oitiva na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Enel na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece). Na ocasião, Nunes pediu desculpas aos clientes da empresa no Estado, afetados por transtornos do fornecimento de energia elétrica. Para buscar a melhoria nos serviços prestados, o dirigente anunciou que, para os próximos três anos, será realizado um investimento no nível R$ 1,6 bilhão, sendo 70% do valor para obras de expansão de rede. A matriz da empresa, na Itália, está passando por um rombo de R$ 60 bilhões, ponto levantado pela Comissão durante a oitiva. Conforme o presidente, no entanto, isso não afeta o investimento da Enel no Ceará.
Respondendo ao presidente da CPI, deputado Fernando Santana (PT), Nunes afirmou entender que uma empresa como a Enel tem que saber “cultivar a humildade”. “Já tenho tantos anos que já internalizei isso. É um dos lemas que estão presentes na minha fala interna. Humildade e não se julgar superior ao cliente”.
“Não tenho dificuldade em pedir desculpas aos cearenses afetados por algum transtorno originário do fornecimento de energia elétrica”, completou. “Busquemos a excelência. É um caminho que já trilhamos no passado”, afirmou. Segundo Nunes, aliás, as críticas aos serviços prestados pela empresa estão sendo intensificadas devido à atuação da mídia. “Muitas vezes, aquilo que tem uma ordem menor ecoa e fica com a percepção maior”, disse.
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INVESTIMENTO PARA OS PRÓXIMOS ANOS
Nunes também apresentou os investimentos para os próximos três anos da companhia no Estado. A empresa vai desembolsar R$ 1,6 bilhão no período. Deste valor, 70% (cerca de R$ 1,12 bilhão) será utilizado para a expansão da rede, sendo este setor, de acordo com Nunes, o “grande demandador de recurso”.
O presidente destacou ainda que problemas registrados acerca do fornecimento de energia não estariam relacionados à falta de investimento. “A Enel Ceará tem investido, no último ano, R$ 1,4 bilhão. Lucro, neste ano, de R$ 350 milhões, totalmente a quem do nível de investimento”, disse, ressaltando que a empresa aplica o seu capital visando melhorar os serviços. Ainda sobre a prestação de serviços, há um canal para apuração de possíveis denúncias que sejam registradas contra a atuação da empresa. “Tudo que se exige em empresas de capital aberto, nível de compliance elevado e canal ético”. Conforme ele, dependendo da gravidade da denúncia, ele chega a participar da reunião para solucionar o problema.
O deputado Guilherme Landim (PDT), relator da CPI, questionou o presidente se o rombo na Itália afeta o investimento da companhia no Estado. Nunes respondeu que tem “convicção” que o déficit não afeta a Enel Ceará. “A Enel Ceará é uma empresa de estado em bolsa, de capital aberto, com acionistas minoritários – 26% dos acionistas são minoritários. Têm muitos cearenses, empresas e fundos de pensão acionistas, que têm uma representação no conselho de administração”. O modelo de negócio, conforme o dirigente, assegura com que a situação na Itália não afete o Ceará.
Nunes, que assumiu a presidência da empresa no Estado no último dia 4 de abril, respondeu ainda aos parlamentares sobre a sua chegada à empresa. “Comentei que não gostaria da comparação. Acho que a Márcia [Sandra, ex-presidente] trabalhou com esforço enorme”, disse. O dirigente afirmou, ainda, que a mudança no Ceará seguiu uma mudança de gestão no País. “Nas minhas tratativas e compromissos com o meu chefe, há acordos para que tenhamos autonomia necessária para essas mudanças”, acrescentou.
INVESTIGAÇÃO
Ainda durante a oitiva, Fernando Santana disse que o colegiado investiga uma suposta venda parcial de equipamentos que teriam sido adquiridos pela Enel para fazer a manutenção da rede elétrica do Ceará, no mercado paralelo. Conforme Santana, a empresa estaria “terceirizando o serviço” com uma empresa que opera em outro estado que já chegou a abrir diálogo para comprar a operação da Enel Ceará. A negociação, todavia, acabou não avançando.
“Eles teriam comprado R$ 700 milhões de equipamentos para manutenção e estariam vendendo parte desses equipamentos no mercado paralelo. Por isso, o Estado do Ceará estaria sem manutenção. Estamos [Comissão] apurando essa denúncia, vamos questionar porque é direito nosso. Estamos no finalzinho da apuração”.
Nunes informou que não responderia às questões.
HABEAS CORPUS
Poucas horas antes do início da última reunião da CPI, membros do colegiado receberam intimação do Tribunal de Justiça do Estado (TJCE), deferido parcialmente pelo desembargador Francisco Luciano Lima Rodrigues, comunicando um habeas corpus preventivo emitido em favor ao presidente da Enel Ceará. Nunes foi ouvido nesta quarta na condição de testemunda, e não de investigado. “Tão somente para ressaltar a necessidade de obediência às garantias constitucionais”, disse o desembargador.
Com isso, o presidente poderia ter ficado em silêncio e não ser compelido a responder qualquer pergunta que tenha caráter sigiloso de terceiros ou da empresa. Dr. Nunes também ficou assistido por advogados durante sua oitiva e não foi obrigado a assinar termo de compromisso de dizer a verdade, caso haja alteração de sua condição de testemunha para a de investigado.
O presidente da CPI, Fernando Santana, publicou um vídeo em suas redes sociais se dizendo “espantado com o documento, uma vez que a empresa alega que não tem nada a esconder”. “Acabamos de receber uma intimação de que o presidente da Enel vai vir ser ouvido com habeas corpus. E nós ficamos surpresos, por que um habeas corpus se não tem nada a esconder?”, questionou. “Vamos, então, interrogá-los, respeitando a justiça, mas a nossa surpresa é que [o presidente] vem para ser ouvido com medo sair daqui preso”, criticou.