O Brasil iniciou o ano de 2022 registrando a maior taxa de transmissão do novo coronavírus desde 2021, segundo dados da Imperial College London, apontando taxa de transmissão de 1.78. Isto significa que 100 pessoas infectadas com o coronavírus poderiam transmitir para 178 outras pessoas. Este balanço indica os recordes na média móvel de casos de covid-19 em meio à disseminação da variante Ômicron, de acordo com os dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
O mesmo cálculo foi feito este mês, revelando queda na taxa de transmissão, de 1.78 para 1.69. Este resultado leva em consideração dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A universidade não pode reportar dados nas semanas de 10 de janeiro e 20 e 13 de dezembro, devido ao ataque hacker que comprometeu o sistema do Ministério da Saúde.
O alívio da redução de casos pode ser sentido em Fortaleza, após o aumento explosivo no número de contaminados este ano. O último boletim epidemiológico oficial de janeiro da Capital ressalta que o aumento exponencial da média móvel de casos é reflexo do retardo da notificação dos casos mais recentes. No entanto, a estimativa está prejudicada pela subnotificação e subdiagnóstico. Os dados atualizados presentes no boletim revelam que, até o último dia, a proporção de positividade das amostras (RT-PCR) de residentes em Fortaleza, analisadas pelos laboratórios da rede pública, foi de 30%, totalizando 337.198 casos confirmados.
Para o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) Luciano Pamplona, a taxa de transmissão está mais baixa. “Se você me perguntasse, em dezembro, quando eu achava que seria o pico de Ômicron, eu teria dito que achava que seria na primeira quinzena de fevereiro. Parece de fato que nestes próximos dias a gente vai chegar no ápice de transmissão no Ceará. Mas em Fortaleza tudo leva a crer que o pico já passou. Deve ter sido há uma ou duas semanas atrás”, argumenta.
A Rede Municipal de Ensino da Cidade é um dos setores que voltou às atividades presenciais com 100% dos alunos retornando às salas de aula, sem rodízios. Para manter a iniciativa, é necessário conter o avanço do vírus, ponderam especialistas. A taxa de transmissão serve como uma estimativa e seus números elevados reforçam a importância de manter as medidas de segurança sanitária.
“A expectativa que a gente tem é baseada na história do que está acontecendo nos outros estados. Acreditamos na simples proteção individual, ou seja, se houver uma população vacinada, a gente consegue sair do pico de transmissão. Preocupa mais quando a gente tem um pico de sobrecarga. Mesmo tendo tido um pico muito maior, esse número não se refletiu em relação ao número de internações, graças à vacinação. O desafio continua sendo vacinar toda a população com duas doses da vacina.”
MAIS UM ANO SEM CARNAVAL
A folia terá de ser em casa pelo segundo ano consecutivo desde o início da pandemia, e a Capital também teve os bloquinhos de rua cancelados. Esta ação foi tomada em outras capitais com o avanço da Ômicron. No mês de realização do evento festivo, o governador Camilo Santana decretou que nos dias de festa não haverá ponto facultativo.
A recomendação é de que as instituições de ensino e estabelecimentos comerciais continuem funcionando normalmente durante o período e que os dias trabalhados durante o Carnaval sejam compensados posteriormente. Para a também epidemiologista e professora da UFC, Lígia Kerr, a decisão de cancelar o Carnaval foi acertada, já que evitará que pessoas se aglomerem em festas. “Não é o momento de estar aglomerando, muito menos em festas em que se consome muita bebida alcoólica e, muitas vezes, se esquece de usar máscara.”
A docente pondera, ainda, que existe um tipo da Ômicron circulando na Europa e que já chegou em São Paulo. “Ela é mais transmissível que essa, e nós ainda não a conhecemos bem. É um momento em que muita coisa pode acontecer se nós não tomarmos cuidado com as medidas de proteção. Primeira e segunda doses, dose de reforço, vacina nas crianças, nos adultos, uso de máscara de boa qualidade e não aglomerar. Essas são as saídas neste momento”, finaliza.
O uso do comprovante de vacinação tem sido mais uma alternativa adotada no Estado como forma de se evitar maior contaminação, uma vez que os estabelecimentos no Ceará devem exigir o certificado, que funciona como uma permissão oficial para frequentar diversos estabelecimentos. Na prática, pessoas vacinadas devem portar o comprovante de vacinação com o registro oficial de pelo menos duas doses do imunobiológico.
Giovana Brito/Especial para OPINIÃO CE e Priscila Baima