Com a presença em plenário de artistas, empresários, produtores e secretários de Cultura, o Congresso Nacional derrubou, nesta terça-feira, 5, os vetos do presidente Jair Bolsonaro (PL) às leis Aldir Blanc 2 e Paulo Gustavo, ambas criadas para incentivar atividades culturais via estados e municípios.
A votação foi possível a partir de um acordo entre líderes partidários e governo, o que permitiu ainda a análise de quase toda a pauta do dia, que tinha 27 itens. Com a derrubada dos vetos, os textos serão agora promulgados pelo presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, tornando-se leis. Juntas, as duas proposições somam repasses iniciais de R$ 6,8 bilhões.
O veto relativo à Lei Aldir Blanc 2 foi rejeitado por 414 deputados. Trinta e nove quiseram mantê-lo e foram derrotados. Houve ainda duas abstenções. No Senado, o placar foi unânime: 69 a 0.
A Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura é uma homenagem ao compositor Aldir Blanc Mendes, que morreu em maio de 2020 em decorrência da covid-19, foi aprovada no Senado em março deste ano e é resultado do PL 1.518/2021.
A iniciativa enumera 17 ações e atividades que podem ser financiadas. Entre elas, exposições, festivais, festas populares, feiras e espetáculos, prêmios, cursos, concessão de bolsas de estudo e realização de intercâmbio cultural.
O dinheiro também poderá ser usado para aquisição de obras de arte, preservação, organização, digitalização do patrimônio cultural, construção ou reforma de museus, bibliotecas, centros culturais e teatros, aquisição de imóveis tombados para instalação de equipamentos culturais e manutenção de companhias e orquestras.
Já o veto sobre a Lei Paulo Gustavo foi derrubado por todos os 66 senadores que votaram. Na Câmara, ainda houve divergência: 356 a 36 pela rejeição.
O texto autoriza repasse de R$ 3,86 bilhões em recursos federais a estados e municípios para fomento de atividades e produtos culturais, como forma de atenuar os efeitos econômicos e sociais da pandemia. Do total a ser liberado pelo Poder Executivo, R$ 2,797 bilhões devem ir para o setor de audiovisual. O restante (R$ 1,065 bilhão) será repartido entre outras atividades culturais.
O projeto homenageia o ator e humorista Paulo Gustavo, que morreu em maio de 2021, também vítima da covid-19. A verba prevista sairá do superávit financeiro do Fundo Nacional de Cultura (FNC) e será operado diretamente pelos estados e municípios.
COMEMORAÇÃO
O senador Alexandre Silveira (PSD-MG) afirmou que a cultura não tem cores e não é de esquerda, de centro ou de direita. E por isso mesmo não pode ser usada para doutrinação.
Segundo o senador Randolfe Rodrugues (Rede-AP), artistas de todo o Brasil se mobilizaram pelos dois vetos, que, segundo ele, sintetizam o desprezo do governo Bolsonaro pela cultura brasileira.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), os dois vetos mostraram a “pequenez do governo e do próprio presidente da República.”
Humberto Costa, assim como a senadora Zenaide Maia (Pros-RN), lembrou também a importância do setor artístico-cultural para a economia brasileira, com a geração de empregos e recolhimento de tributos.
O senador Paulo Rocha (PT-PA), por sua vez, destacou a mobilização de artistas de todas as áreas.
Segundo o parlamentar, foi a mobilização de poetas, cantores, atores, e artesãos que qualificou o debate no Congresso e permitiu aos parlamentares darem resposta aos problemas da cultura brasileira. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) fez questão de destacar que a derrubada dos vetos relativos ao setor cultural só foi possível graças à costura de um acordo com o governo, com a concordância do presidente Jair Bolsonaro. (Agência Senado)