Com a eleição presidencial definida com a volta de Lula (PT) ao poder a partir de 2023, o mercado financeiro do Brasil já está sentindo algumas mudanças constatadas. Nesta última terça-feira, 31, por exemplo, dia seguinte à vitória, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), principal indicador de desempenho médio das ações, encerrou em alta de 1,31%, aos 116.037,08 mil pontos, enquanto que o dólar fechou em forte queda após abrir a R$ 5,40 em reação inicial dos mercados à vitória do petista.
A reação inicial era esperada devido a incertezas sobre a escolha do petista para a composição do seu governo. É o que avaliam especialistas e professores de economia ouvidos pelo OPINIÃO CE. Doutor em Economia e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Joseph Vasconcelos defende que, à medida que Lula apresente seu plano de governo, sobretudo, revelando sua equipe econômica, o mercado financeiro deve reagir de forma mais assertiva.
“A partir de agora, Lula começa, nos dois meses até tomar posse, revelar elementos que são importantes para montar o governo dele. O mercado financeiro está olhando para algumas pautas econômicas que não ficaram bem definidas no processo de campanha eleitoral. Por exemplo, a equipe econômica não foi escolhida ainda. Então, é um momento que o mercado espera ansiosamente pelo nome que vai compor a pasta”, explica.
Tratando-se de política fiscal, também segundo o docente, o mercado está mais atento, principalmente com as medidas que devem ser tomadas pelo petista. “Nós já temos uma certa fragilidade para o ano que vem no que diz respeito à política fiscal porque o atual governo potencializou os gastos públicos com alguns fatores inerciais que podem perdurar para ano que vem. Ainda não se sabe se o governo Lula será mais conservador ou mais expansionista”, adensa.
“Outra expectativa do mercado é saber se o próximo governo, por exemplo, vai cumprir ou não vai cumprir com o Teto de Gastos. A forte aposta é de que não vai cumprir, e isso fragiliza um pouco o compromisso fiscal, visto de forma negativa. Por outro lado, o mercado financeiro pode reagir bem à agenda ambiental por acreditar que o Brasil pode ter fortes ganhos econômicos nesse quesito.”
PETROBRAS
O professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e economista, Alexis Toribio Dantas, explica que tudo indica que, economicamente, o foco do governo Lula também será modificar as regras da Petrobras. “O ponto fundamental é que, com certeza, haverá uma mudança na farra de dividendos que marcou a política de precificação e distribuição de lucros da Petrobras. Isto já foi sentido no mercado internacional não por acaso. É possível que nós passaremos novamente a ter uma caracterização da Petrobras como uma empresa importante do ponto de vista de desenvolvimento econômico e não como uma empresa extratora simplesmente de petróleo. Isto vai ser sentido não só no Brasil, mas no mundo, já que tem um grande percentual de acionistas estrangeiros que têm interesse nessa política de precificação.”
As ações da Petrobras tiveram queda acentuada ontem, puxadas pela vitória do petista. Outra estatal listada na bolsa, o Banco do Brasil, também caiu. As ações ordinárias da Petrobras (PETR3) tiveram queda de 7,32% aos R$ 33,16, enquanto as preferenciais (PETR4) caíram 8,75%, a R$ 29,72. Em valor de mercado, a estatal teve perda de R$ 34,2 bilhões.
Apesar da perda, ainda na avaliação do docente da UERJ, o mercado financeiro, de uma maneira geral, reagiu muito bem à vitória do Lula, como era esperado. “Existe a experiência no passado em que ele foi presidente outras duas vezes. A primeira impressão foi muito positiva com a ressalva de que, muito provavelmente, haverá a redefinição do papel da Petrobras”, completou.