A avenida Beira Mar conta com obras para a construção de 14 novas guarderias para a pesca artesanal, iniciadas em novembro do ano passado, com o objetivo de garantir o ordenamento das atividades, manutenção e acomodação correta das embarcações dos pescadores que atuam na Praia do Mucuripe. No entanto, pescadores e profissionais do ramo se queixam das implicações que a construção está causando aos seus trabalhos.
O OPINIÃO CE ouviu quatro pescadores sobre a situação do trabalho com as obras das novas estruturas. Francisco Jorge (58), pescador e tratador de peixe,falou das suas expectativas. “Estão fazendo uma urbanização para vê se melhora porque estava uma sujeira imensa, agora está mais organizado e limpo. Mas, vamos ver se eles deixam nós voltar [para o local], porque somos filhos nativos e natural daqui”, relata Francisco.
O profissional afirma que a rotina de trabalho foi alterada com a mudança de local por conta das obras, pois atuava exatamente onde está havendo a construção das guarderias. “Eu acredito que haverá uma melhoria, só que como estamos hoje não é igual antes, tínhamos um livre arbítrio de subir e descer a embarcação, limpar e fazer reparos ou tratar o peixe na mesa. De imediato não atrapalhou tanto, mas onde estamos hoje ficou mais restrito, lá era mais livre.”
Diálogo
Francisco confirma também que a Prefeitura de Fortaleza conversou com a associação de pescadores locais para falar de suas propostas e ouvirem as sugestões dos trabalhadores, sendo um dos representantes a falar com a Secretaria Regional 2, que está responsável pela obra. De acordo com o informado pela gestão, serão beneficiados 38 profissionais que já atuam no local, número trazido pela Colônia de Pescadores Z-8, e todos os detalhes da intervenção passaram pelo aval dos representantes dos profissionais.
Já Marcos Antônio (61) e José Rosalino (43), pescadores, criticam de forma mais veemente a obra das guarderias. “Essas obras vão impactar muito as jangadas para botar pra riba [colocar no mar] e tirar peixe, a maré grande vai atrapalhar”, diz Marcos Antônio. “Eles estão fazendo um alicerce de pedra, também disseram que vão fazer um barracão para tirar o peixe lá dentro. Mas ninguém sabe como eles vão querer fazer com a gente, se vão deixar a gente fazer [o trabalho] lá dentro ou permanecer aqui fora mesmo como está”, explica José Rosalino. O pescador de 43 anos também diz que há problemas com outros profissionais no local por conta das obras, pois o espaço para trabalho é menor.
“Não deixam mais colocar jangada lá [nas obras], quando trazemos pra cá, os trabalhadores daqui não querem que coloquem a jangada aqui porque dizem que atrapalha. O pescador vai viver de quê? Está tendo muito prejuízo, aqui está tudo bagunçado”, reclama.
Antonio Rodrigues (54), pescador e tratador de peixe da região, também retoma a questão do espaço na nova área. “Está atrapalhando porque a gente chega do mar e o espaço é pouco para nós tirarmos o pescado, e também não está dando o trabalho para ganhar o mesmo sustento de antes. Lá a gente ganhava um dinheiro melhor, aqui está fraco”, lamenta Antônio. O pescador também afirma que a prefeitura exigiu a compra de um carrinho de venda no valor de 1100 reais, no qual comporta apenas duas mesas e oito cadeiras: “E aí quando chega muito freguês para comprar, vai sentar aonde?”.
Prefeitura
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Fortaleza para checar esta informação, mas não foi confirmado e nem negado, apenas informado que: “o processo de padronização de material e atividades está em andamento, sob orientação de técnicos do órgão municipal.”
As obras das guarderias da Beira Mar têm previsão de entrega para abril deste ano. O investimento realizado é de R$ 2,5 milhões. Em dezembro, as obras estavam com 20% do andamento concluído. Elas tiveram início pela Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) e estão sob supervisão da Secretaria Regional 2 (SER 2). As novas guarderias contarão com três formatos, um para cada atividade dos profissionais que atuam na venda do pescado.