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19 de março de 2025

Com novos líderes, Ceará retoma protagonismo no cenário político nacional

Camilo assumiu a Educação com a missão de ampliar os bons índices que o Ceará apresenta no setor para todo o Brasil. Para isso, ele conta com o trabalho de outras duas cearenses de destaque: a ex-governadora Izolda Cela, no cargo de secretária executiva. Lei mais

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O ministro da Educação, Camilo Santana (PT), destacou-se nas últimas eleições de 2022 e retomou o protagonismo dos cearenses na política nacional. Antes de assumir o Ministério da Educação (MEC) do governo do presidente Lula (PT), Camilo foi o senador mais votado da história do Ceará, após bater os números do seu padrinho político Cid Gomes (PDT) em 2018.

No pleito, o petista conquistou 69,76% dos votos válidos, o que corresponde a 3.389.513 de votos. Em 2018, Cid havia somado 3.228.533 de votos (41,62%), quebrando o recorde de Eunício Olivei- ra (MDB), em 2010, que somou, na ocasião, 2.688.833 (36,32%). Além disso, Camilo conquistou o maior percentual de votos da história do Estado desde a redemocratização do País, em 1985, des- bancando os 57,91% de Tasso Jereissati (PSDB) – 2.314.796 votos no- minais, em 2014.

No dia 22 de dezembro de 2022, o ex-governador do Ceará foi anunciado para assumir a Educação – mais um paralelo com Cid Gomes, que foi o primeiro cearense a comandar a pasta, no ano de 2015. O cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da UFC (Lepem-UFC), Cleyton Monte, explica o que significa, na prática, Camilo no quadro de ministros do governo Lula.

“O MEC é o maior orçamento da Esplanada dos Ministérios do Governo Federal. Então, é muito importante você ter um grupo de cearenses definindo esse recurso, definindo essa política nacional de prioridade para o governo. Isso é de grande impacto e eu não tenho a menor dúvida que isso vai influenciar políticas públicas, ações programas, então é de uma força fantástica”, destaca.

Camilo assumiu a Educação com a missão de ampliar os bons índices que o Ceará apresenta no setor para todo o Brasil. Para isso, ele conta com o trabalho de outras duas cearenses de destaque: a ex-governadora Izolda Cela, no cargo de secretária executiva, e a ex-secretária da Fazenda, Fernanda Pacobahyba, no comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

A possibilidade de indicar esses dois nomes de confiança para cargos estratégicos na pasta foi mais uma prova da força de Camilo no PT. Para Cleyton Monte, isso significa “uma evolução, um reconhecimento do trabalho do ex-governador Camilo Santana”.

“Ele atuou muito de perto na campanha. O Camilo funcionou como um coordenador de campanha do Lula aqui no Ceará, teve uma expressividade muito forte no segundo turno na disputa entre Lula e Bolsonaro. Conseguiu ampliar a votação e, claro, tornou-se uma figura de referência dentro do PT. Coisa que não era né”, explica ainda.

Na mesma linha avalia a cientista política e socióloga Carla Michele Quaresma.

“Eu acredito que a indicação do Camilo Santana seja esse reconhecimento que realmente o estado do Ceará avançou muito na questão da educação, principalmente com essas escolas de tempo integral, escolas profissionalizantes. Mas, além disso, claro, é também o reconhecimento do apoio importante que foi dado à campanha do presidente Lula. O Camilo se mostrou ali um aliado de primeira hora, entrou na campanha de corpo e alma”, afirma a especialista.

“Após a ruptura entre o PT e o PDT, dos Ferreira Gomes, no Ceará, a posição de Camilo ante o próprio partido ficou mais clara. Até então dividido entre as duas siglas que eram aliadas a nível estadual, mas disputavam a nível federal, Camilo “sempre foi visto com desconfiança por ser de um de um PT muito mais ligado ao grupo dos Ferreira Gomes, sem relação direta com as bandeiras do partido”, afirma o pesquisador do Lepem, Cleyton Monte. “Então [depois disso] ele passou a se cacifar junto ao diretório nacional do PT”, conclui.

A HISTÓRIA SE REPETE?

Pela relação histórica entre Camilo e os irmãos Ferreira Gomes, são muitas as comparações entre ele e Cid. Em um paralelo mais recente, Camilo assume o MEC, pasta que já foi chefiada por Cid Gomes no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Cid, no entanto, teve uma passagem relâmpago por lá e saiu no mesmo ano em que entrou, após protagonizar polêmica na Câmara dos Deputados. O mesmo destino não é esperado para Camilo. “O Camilo, até pela personalidade, vai imprimir uma marca diferente [da de Cid] no MEC”, afirma a cientista política Carla Michele.

A especialista destaca ainda a trajetória do petista, que se consolidou como a principal liderança política do Ceará, ainda que tenha ascendido ao Governo do Estado pela primeira vez na sombra de Cid, então governador. “Como deputado ele [Camilo] não tinha essa projeção no estado do Ceará quando foi lançado pela primeira vez candidato a governador. Então contou aí com o apoio significativo do Cid Gomes, que foi o grande responsável por essa projeção. Durante muito tempo, acreditou-se que o Camilo ficaria ali na sombra do grupo capitaneado pelos irmãos Ferreira Gomes, mas ele ganhou uma projeção muito grande e conseguiu impor uma liderança muito grande no estado do Ceará”, destaca.

Desta vez, a ascensão de Camilo ao MEC incitou inclusive diversas especulações de que o cearense seria o próximo nome do PT a disputar a presidência da República, em um futuro não muito distante. Para o pesquisador Cleyton Monte, inclusive, “a disputa presidencial de 2026 já começou”, e o Nordeste desponta no quadro de possíveis indicados.

“Basta você ver o tamanho do Nordeste novo ministério. Tem o Rui Costa [Bahia] no Ministério da Casa Civil, Flávio Dino [Maranhão] no Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Camilo Santana na Educação. Três ministérios muito importantes, com orçamento, com poder de agenda. Então, não tenho dúvida que essas figuras, incluindo o Camilo, são presidenciáveis. Aí, claro, vai depender da gestão que eles conseguirem realizar”, defende.

Ainda sobre as diferenças entre Camilo e Cid, Cleyton corrobora: “existem algumas proximidades e diferenças. É natural fazer esse tipo de comparação, os dois ex-governadores, os dois ocupando o Ministério da Educação. Mas o Camilo tem uma prática mais conciliadora, ele colocou isso em prática nas duas gestões à frente do governo, ele consegue aglutinar mais, ele tem um discurso mais moderado”.

Segundo o pesquisador, o petista “tem uma perspectiva política de pacificação”. “Então eu acredito que ele vai ter uma perspectiva de articulação mais aprimorada do que o Cid, ele vai saber lidar com os agentes políticos, ele já tem manejo para isso”, conclui.

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