Na noite de quarta-feira, 3, o Psol Ceará anunciou a retirada da candidatura de Adelita Monteiro e a vice Juliana ao governo local para apoiar o nome petista ao cargo, Elmano Freitas. Com isso, a campanha de Paulo Anacé (Psol) ao Senado foi prejudicada, já que o bloco coordenado pelo PT lançou o ex-governador Camilo Santana à disputa.
Paulo, do povo Anacé, localizado em Caucaia e em São Gonçalo do Amarante, seria o primeiro nome indígena a disputa uma cadeira na Casa Alta pelo Ceará. Ao OPINIÃO CE, o candidato disse que apoia a decisão do partido de aliar-se nacionalmente a Lula e de reforçar a campanha de Elmano no Ceará, mas confirma que a retirada do seu nome da disputa foi feita sem consultá-lo.
De acordo com Paulo, o encaminhamento foi feito na quarta, em reunião do diretório estadual, na mesma ocasião em que foi acordada a retirada do nome de Adelita da corrida. Segundo ele, a escolha por não lançá-lo ao Senado foi sugerida pela própria Adelita e virou ponto de discordância entre psolistas, que tiveram que levar a pauta à votação. Nessa etapa, a maioria emitiu entendimento desfavorável a Paulo.
Em nota divulgada na quinta, 4, o Psol disse que “a maioria da direção estadual entendeu que não seria justo retirar as candidaturas de duas mulheres e manter a candidatura de um homem ao Senado, não deslegitimando sua trajetória e seu compromisso com a luta, mas não seria coerente de nossa parte”, finalizando o comunicado com um reforço de apoio à campanha de Camilo à Casa Alta.
Paulo, contudo, argumenta que não está no espaço padrão de um homem na política, mas sim de um nome indígena e LGBT, pautas que defenderia ao longo de sua campanha e em um eventual mandato como senador. Para ele, o posicionamento do partido vai de encontro à trajetória de luta do então candidato, que fez oposição ao governo Camilo.
“O governo Camilo luta contra o nosso povo Anacé aqui no Complexo Industrial. Tem a questão da retirada da água que lutamos há muitos anos, da desapropriação, da especulação imobiliária, da violência, da questão ambiental e da luta das pessoas que são perseguidas, não só indígenas, mas negros, LGBTs…”, afirma Paulo.
Divisão no partido
Pelas redes sociais, correligionários de Paulo se manifestaram contra a decisão do Psol de descartar sua candidatura contra a sua vontade. A vereadora Adriana Gerônimo classificou como “lamentável” o fato de o “único indígena na disputa” ser impedido de ser postulante. “Me coloco à disposição de lutar para reparar esse grave erro”, completou.
O deputado Renato Roseno também se pronunciou. “Lamentamos profundamente a retirada da candidatura indígena em nossa chapa majoritária e manifestamos aqui nossa irrestrita solidariedade ao companheiro Paulo Anacé. Esperamos, sinceramente, que o partido repare essa injustiça”, disse. O parlamentar informou, também, que assinou recurso para manter a candidatura do líder indígena ao Senado.
Segundo Paulo, esta sexta, 5, é o prazo para que o recurso seja votado, já que é nesta data que ocorre a convenção do Psol Ceará. Caso a decisão não seja revertida, ele diz que há a possibilidade de ser lançado a outro cargo proporcional, mas que o encaminhamento será decidido por outros membros do partido.