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21 de março de 2025

Coluna: uma coisa de cada vez

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Não espanta perceber o quanto temos colocado coisas e mais coisas dentro de nossas vidas? É como se, em algum momento que nem sabemos ao certo qual, nada mais tivesse significado suficiente para carregar a honra de ser… Único. Sim, estou mais uma vez falando sobre os nossos exageros.

Outro dia, comentei que estava doando alguns brinquedos e móveis das crianças, e uma pessoa me perguntou se eu ainda tinha algo para doar ou vender – risos. Eu verdadeiramente abro mão de coisas. Mas tenho hoje uma boa explicação: abro mão de adquirir novas coisas e até de coisas velhas para potencializar os momentos, e já faz bastante tempo que tem sido assim. Quando colocamos os objetos, móveis, materiais, ferramentas como elementos centrais de uma experiência, deixamos de nos relacionar. E, veja, a solidão não pode ser estimulada. Ela em algum momento sufoca e maltrata.

Então, no lugar de cada vez mais ir naquilo que vai nos distanciar uns dos outros, porque não investirmos em tempo junto, olho no olho, conversas e brincadeiras? Por que não um jogo a dois? Daqueles em que a criança perde e fica brava, até começar a entender que a vida é mesmo assim? Ou daqueles jogos onde deixamos todas as coisas em volta para sentar e olhar atentamente para o nosso par, que deseja falar e ser ouvido? Quando foi que começamos a desejar coisas e se esquecer das pessoas? Me desapontou saber que já me dediquei a esta realidade.

Me desaponta lembrar que muitas pessoas colocaram coisas no centro de suas histórias por meu incentivo e que eu sigo aqui, no meu universo de descobertas. Onde o centro já não será mais coisa alguma. E, mesmo que alguma coisa seja verdadeiramente necessária, que seja sempre uma coisa de cada vez.

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