As Forças Armadas apresentaram uma notícia-crime contra o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) em razão de declarações feitas pelo ex-ministro durante uma entrevista à rádio CBN. À emissora, o presidenciável afirmou, na terça-feira, 21, que o Ministério da Defesa é conivente com o crime organizado na Amazônia.
Ao comentar o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, Ciro definiu a região amazônica como uma “holding do crime” graças à gestão do governo Bolsonaro. Disse, também, que “o narcotráfico é claramente protegido por autoridades brasileiras, inclusive as Forças Armadas”.
Em nota, as Forças Armadas disseram repudiar veementemente o que chamaram de “irresponsáveis declarações” do presidenciável. “Tais acusações levianas afetam gravemente a reputação e a dignidade dessas respeitadas Instituições da Nação brasileira, cuja honra, valores e tradições se confundem com a própria identidade do povo brasileiro”, afirmou a instituição.
O documento é assinado pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira; o comandante da Marinha, Almir Garnier Santos; o comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes; e o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior.
Encaminhada ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a notícia-crime pede que sejam apurados os crimes de:
– “Incitar, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade”;
– E “propalar fatos, que sabe inverídicos, capazes de ofender a dignidade ou abalar o crédito das Forças Armadas ou a confiança que estas merecem do público”.
Na manhã desta sexta-feira, 24, Ciro disse ter sido “surpreendido” pela nota, classificada por ele como “intempestiva” e “agressiva”. O pré-candidato do PDT afirmou que a notícia-crime “mais uma vez explicita o grau de politização do atual comando das Forças Armadas”, relacionando o incidente à influência do governo Jair Bolsonaro na instituição.
“Em nenhum momento disse que as Forças Armadas, enquanto instituições de Estado, estariam envolvidas com essa holding criminosa. Afirmei – e reafirmo – que, frente à desenvoltura com que um tipo de estado paralelo age na área, é impossível não imaginar que alguns membros das forças de segurança possam estar sendo coniventes por dolo ou omissão”, afirmou o ex-ministro.
Ciro classificou a notícia-crime como uma “ação política” contra a sua pré-candidatura ao Planalto e insinuou que o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, estaria obedecendo ordens do presidente Jair Bolsonaro para prejudicá-lo na corrida eleitoral.
“Não me surpreende que a iniciativa desta ação política contra mim – e contra a minha candidatura – parta de um Ministro da Defesa que, possivelmente obedecendo ordens de seu comandante supremo, vem se notabilizando por tentativas de interferência no processo político”, afirmou, relembrando, também, o ofício enviado pelas Forças Armadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No ofício, que foi enviado à Corte eleitoral no início deste mês, Nogueira pediu ao presidente do tribunal, ministro Edson Fachin, que tomasse medidas para facilitar a contratação de empresas por iniciativa dos partidos para auditagem das urnas eletrônicas, em sintonia com a proposta do presidente Jair Bolsonaro.
Estadão Conteúdo