Como ex-governador do Ceará por dois mandatos e autoproclamado responsável pela aliança entre PT e PDT, agora oficialmente inexistente, o senador Cid Gomes (PDT) tem capital político suficiente para atrair os votos e a ala mais “cirista” da própria sigla para a campanha do ex-presidente Lula (PT), avaliam especialistas consultados pelo OPINIÃO CE.
Nesta segunda-feira, 10, o congressista subiu ao palanque com os petistas já eleitos Camilo Santana (Senado) e Elmano de Freitas (governo do Ceará).
O segundo mais velho dos irmãos Ferreira Gomes destacou o Brasil, a amizade com Camilo e o Ceará como as três principais razões para entrar na campanha. Cid ainda afirmou que não sossegará enquanto não tiver todos os petistas engajados “nessa luta.”
A cientista política e professora universitária Carla Michele Quaresma lembra que foi Cid quem puxou votos para eleger Camilo em 2014 e Roberto Cláudio (PDT) para a Prefeitura de Fortaleza, em 2012. No Senado, ele pode estar mais distante dos eleitores, mas ainda é o grande representante do PDT no Ceará, afirma.
Para a pesquisadora, Cid é uma grande ajuda num dos maiores desafios apontados na campanha de Lula: o de reduzir as abstenções. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mais de 32,7 milhões de eleitores escolheram não sair de casa no dia 2 de outubro, o que representa 20,95% do eleitorado.
“Cid tem essa condição de representar aqui no Ceará o PDT e buscar, ao lado de Elmano e Camilo, alargar essa quantidade de votos, incentivando principalmente as regiões em que houve grande abstenção”, aponta Quaresma.
A chegada do pedetista não é exatamente uma novidade. Durante o primeiro turno, Cid pediu votos para o irmão que estava presidenciável, Ciro Gomes (PDT). Contudo, não se manifestou em favor de nenhum dos pleiteantes do Palácio da Abolição e fez campanha para Camilo chegar ao Senado. A postura provocou uma cisão na família e no partido, já que Ciro acusa Camilo de trair a aliança por uma suposta promessa de cargo num futuro governo de Lula. Além disso, a legenda dos dois tinha Roberto Cláudio para o governo e a coligação apresentava Érika Amorim (PSD) para a disputa contra Camilo.
Passada a primeira fase, com Ciro deixando a disputa nacional em quarto lugar, o PDT decidiu seguir com Lula, e o ex-ministro se manteve alinhado com a agremiação.
Entretanto, ao se pronunciar sobre o assunto, o também ex-governador do Ceará sequer mencionou o nome do petista e disse ser era a “última saída” diante de duas opções “insatisfatórias”.
O sociólogo e professor universitário Clesio Arruda acrescenta a capacidade de Cid de engajar mais prefeitos na campanha presidencial.
“Trata-se de um político com mandato em vigência no Senado, que pode articular projetos e linhas de crédito para a realização de obras infraestruturais nos municípios do Estado. Assim, pode funcionar para convencer prefeitos ao engajamento na campanha presidencial nesta reta final”, adiciona.
O cientista político Cleyton Monte aponta ainda o reforço que o representante dos Gomes traz para a futura gestão petista no Ceará.
“A perspectiva é atrair essas lideranças para o apoio ao Lula, mas também para pavimentar o caminho para o governo Elmano.”
CAMILO: O GRANDE VITORIOSO
A vitória de Camilo para o Senado foi uma das maiores da história política cearense: o petista conseguiu 69,7% de todos os votos válidos. Além disso, fez de Elmano, o quarto colocado na disputa pela prefeitura de Caucaia em 2020, governador eleito em primeiro turno, com 54,02% dos sufrágios. O feito alça o novo parlamentar ao posto
de maior vitorioso de 2022 no Ceará e maior liderança política.
“Houve uma transferência muito grande de votos. (…) Um poder de arregimentação muito grande de lideranças políticas, pois foram várias as lideranças que apoiaram a candidatura de Elmano e, mais do que isso: essa capacidade de mobilização popular que o Camilo demonstra ter”, afirma Carla Michele.
Todavia, Cid, que tem carreira mais longeva, também ocupa o pódio. Monte explica não haver uma distinção tão clara entre ele e Camilo, já que o próprio petista tem o pedetista como referência.
“Considero o senador a maior liderança do PDT no estado do Ceará”, disse Camilo em entrevistas. “[Cid] assumiu integralmente esse papel de articular com os prefeitos, com os deputados, fez reuniões com os deputados do PSD, convocou os prefeitos para o ato que nós fizemos, com dezenas, aliás, quase a integralidade dos municípios presentes e muitos prefeitos, ex-prefeitos, lideranças, inclusive vários prefeitos do PDT que não apoiaram o Elmano no 1º turno”, disse Camilo.
Questionado sobre a relação com Ciro Gomes, o petista disse ser preciso tempo, mas que a maior resposta já foi dada pelos eleitores, nas urnas. “Acho que é importante também as pessoas terem a humildade de fazer reflexões. Tenho isso na minha vida: a humildade. Reconhecer os sinais que a vida nos dá […]”, respondeu Santana em entrevista à Rádio O POVO CBN e a CBN Cariri nesta terça-feira, 11.