Desde meados do ano passado, especialistas, órgãos competentes e o poder público vinham apontando para a preocupação com a seca em 2024. O possível cenário tinha como uma das principais motivações o fenômeno climático El Niño, que pode interferir no Ceará com a diminuição do volume de chuvas. No entanto, desde o início da quadra chuvosa, em fevereiro, o Estado tem sido palco de precipitações intensas. Tal cenário tem sido visto de forma positiva pela população, mas como ressaltou o pesquisador Francisco Vasconcelos Júnior, da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), ao OPINIÃO CE, prognósticos não são alterados. Portanto, a previsão de maior probabilidade de chuvas abaixo da normalidade e quase igual à normalidade não será modificada.
“Não é modificado, pois o prognóstico aponta o risco associado às condições e às previsões dos modelos no momento que ela foi emitida“.
No último mês de novembro de 2023, o presidente da Funceme, Eduardo Sávio Rodrigues, anunciou que “não há dúvidas de que teremos seca” em 2024. “A Funceme foi a primeira instituição a alertar sobre isso há um bom tempo e agora provamos que não há possibilidade de termos uma boa quadra chuvosa com o cenário que temos hoje. Será impossível termos um bom aporte e deveremos trabalhar nisso, colocando em prática nossos aprendizados obtidos nos anos de seca”, avaliou o presidente. A ocasião de fala foi durante a 11ª Reunião Ordinária do Conselho de Recursos Hídricos do Ceará (Conerh).
PRECIPITAÇÕES NA QUADRA CHUVOSA
A quadra chuvosa no Ceará vai de fevereiro a maio. Neste período de quatro meses, é esperado, normalmente, um volume mais intenso de precipitações. Em fevereiro, foi observada uma média de 232 mm em todo o Ceará, um desvio positivo de 91,3% da média de 150,16 mm. Conforme o pesquisador, já eram aguardadas chuvas expressivas, mas o que foi observado foi além do esperado.
“De fato, a partir do dia 10 de fevereiro, modificações da temperatura da superfície do mar na porção central do Oceano Atlântico tropical impulsionaram precipitações bem acima da normalidade para o período”.
Em março, até então, foi observada uma precipitação média de 171,6 mm, desvio abaixo de 16,9% da climatologia. De acordo com Francisco, no mês, as chuvas se concentraram mais no litoral do estado, com atuação na Zona de Convergência Intertropical e áreas de instabilidade, não adentrando, então, ao Sertão. Ainda assim, até o final do mês, “são esperadas chuvas, com alguns eventos de precipitação mais expressivos”.
Conforme o pesquisador, para o próximo trimestre (abril, maio e junho), que contempla os últimos dois meses da quadra chuvosa, as condições de chuva devem estar dentro da normalidade, “devido ao decréscimo da atuação do El Niño”. Como completou a Funceme, a macrorregião do Sertão Central e Inhamuns tende a ser a que vai possuir os menores volumes de precipitação até o final do período chuvoso.