Voltar ao topo

14 de janeiro de 2025

Ceará registra mais de 4 mil casos de ataques de escorpiões no acumulado de 2024

No somatório de 2023 com os casos desse ano, foram registrados 11.861 acidentes com o escorpião
Foto: Emanuel Marques da Silva/ Divisão de Zoonoses e Intoxicações da Sesa

Compartilhar:

Ao levantar da cama, a empresária Edilene Souza sentiu uma picada, que aos poucos foi evoluindo para uma lesão avermelhada, apresentando uma dor intensa, “como se estivesse queimando”. Ela, então, encontrou um escorpião e se encaminhou para uma unidade de saúde. Com o período chuvoso se aproximando, a quantidade desses ataques de escorpiões no Ceará tende a aumentar. Em entrevista ao OPINIÃO CE, a doutora em saúde pública e articuladora do Grupo Técnico das Zoonoses da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), Kellyn Cavalcante, informa que foram 4.243 casos apenas no acumulado do ano de 2024, indicando um aumento de 44% de ataques, em comparação ao ano passado.

No somatório de 2023 com os casos desse ano, foram registrados 11.861 acidentes com o inseto, o que representa mais de 59% dos ataques por animais peçonhentos no Estado. Os números expressivos de registros de casos podem aumentar com a condição climática.

“Os acidentes dos escorpiões costumam acontecer mais nesses meses de dezembro a abril, assim como em outros estados do Brasil, exatamente devido ao clima quente e chuvoso. Acontece que esses animais vivem nas redes de esgoto e elétrica e aí eles buscam novos abrigos nesse período chuvoso. E aí acaba acontecendo mais acidentes justamente pela necessidade de eles buscarem locais mais secos para se proteger. Eles vão em busca de locais mais seguros para eles”, explicou a doutora em Saúde Pública, Kellyn Cavalcante

A espécie que se destaca no território cearense é a Tityus Stigmurus, conhecido popularmente como escorpião amarelo. Caracterizado pela cor amarelada e por apresentar uma mancha escura no dorso, o escorpião apresenta um alto índice de veneno, que pode afetar o sistema nervoso e levar a vítima atingida à morte. A denominação da espécie se dá pela presença de uma serrilha nos 3º e 4º anéis da cauda. Outra característica da espécie é a reprodução do tipo partenogenética, ou seja, as fêmeas procriam sem precisar que machos as fecundem.

Os sintomas da picada dos escorpiões costumam variar conforme a quantidade de veneno injetado e dependendo da resposta imunológica, tendo como população de maior risco as crianças e idosos. Nesses casos, as vítimas podem apresentar dores locais ou, em casos mais graves, sintomas sistêmicos, com náuseas, salivação, vômitos incoercíveis, dores abdominais e sudorese. Caso uma pessoa seja picada pelo animal peçonhento, é recomendado, primeiramente, lavar o local atingido com água e sabão. Em nenhuma hipótese se deve cortar, apertar ou usar qualquer produto química para retirar o ferrão do escorpião. Em seguida, a vítima deve procurar uma unidade de saúde mais próxima.

TRATAMENTO 

O tratamento contra a picada de escorpião em casos que apresentam sintomas sistêmicos pode ser realizado em unidades de saúde de referência das macrorregiões do Ceará. Na capital cearense, o Instituto Doutor José Frota (IJF) é responsável pelo tratamento especializado em ataques de escorpião, tendo como principal recurso o soro imunológico, adquirido através do Ministério da Saúde. Em casos em que a vítima apresente apenas a dor no local da picada, o recomendado é utilizar um analgésico para dor, como dipirona ou paracetamol.

A Farmacêutica do Centro de Informação e Assistência Toxicológica do IJF, a doutora Karla do Nascimento, explica que existe uma expectativa de que seja criada uma vacina ou algum antidoto que proteja contra o veneno do escorpião, mas ela explica que essa não é a melhor alternativa, já que a produção do soro tem um alto custo e com regras rigorosas, além de ser feito a partir do sangue dos equinos, o que pode fazer com as pessoas que usariam esse antídoto desenvolvam alergias anafilaxias graves, levando até mesmo à morte. O soro, então, é utilizado apenas em casos que o paciente tenha risco de vida, que é indicado a partir dos sinais sistêmicos.

“Se a pessoa só tem efeitos locais, dor e queimação, formigamento, apesar de ser, intensa, isso não é sinal clínico de gravidade. A gente não vai colocar em risco a vida da pessoa. Então, se o indivíduo está evoluindo com os sinais graves de escorpionismo, são esses sinais sistêmicos, aí sim se avalia a necessidade da soroterapia, que seria o único tratamento para se evitar o óbito desse paciente”, explicou a Dr. Karla do Nascimento.

A especialista ainda explica que, apesar de existirem diversas espécies, é utilizado o mesmo soro de tratamento em todos os casos de picada, dispensando a necessidade de identificar qual o tipo de escorpião que atingiu a vítima. Ela ainda destaca que não existe um veneno ou inseticida que possa combater o animal peçonhento, além do uso indiscriminado desses produtos ser responsável pelo aumento da reprodução dos escorpiões.

FALTA DE MEDICAMENTOS 

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) entrou com uma Ação Cível Pública (ACP), nesta quinta-feira (7), contra o Instituto Dr. José Frota (IJF) por falta de medicamentos e insumos obrigatórios. Conforme denúncias, 279 dos 375 remédios estariam com estoque zerado, representando a falta de 74,4% dos recursos. “Isso de forma geral vai refletir sobre a conduta de forma sintomática. Então, chega o paciente com a dor intensa e não tem uma dipirona”, afirmou a especialista.

COMO PREVENIR ACIDENTES COM ESCORPIÕES

  • Evitar o acúmulo de lixos, entulhos e sujeiras;
  • Utilizar ralos em cozinhas, lavanderias, e banheiros;
  • Instalação de redes de proteção nas frechas de portas e buracos
  • Observar vasilhas de animais ou outros objetos que possam está escondendo os escorpiões;
  • Manter a grama aparada;
  • Sacudir roupas e sapatos antes de usá-los;
  • Combater a proliferação de insetos;
  • Evitar que roupas de cama e mosquiteiros encostem no chão.

[ Mais notícias ]