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8 de dezembro de 2024

Ceará realiza primeira cirurgia de feminização de voz em mulher trans na rede pública

A cirurgia busca tornar a voz de uma mulher trans mais aguda e condizente com o gênero que ela se identifica
O procedimento cirúrgico não necessita de corte externos para diminuir o tamanho das pregas vocais- Foto: Ascom Helv

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O Ceará realizou a primeira cirurgia de feminização da voz, conhecida como “glotoplastia de Wendler”, em um hospital da rede pública. Permitindo que mulheres trans tenham uma voz mais aguda e condizente com o gênero que se identificam, o procedimento foi feito no Hospital Estadual Leonardo da Vinci (Helv), em Fortaleza, contemplando a auxiliar administrativa Davina Morais, de 33 anos. A cirurgia passa a fazer parte do catálogo de cirurgias do equipamento de saúde.

O processo cirúrgico não necessita de cortes externos para reduzir o comprimento da prega vocal, utilizando instrumentos especiais, como o microscópio. Em seguida, são feitos dois pontos para haver uma maior tensão e diminuição do tamanho e da massa da corda vocal. Antes e após ser realizada a cirurgia, são realizadas sessões de fonoterapia. Durante os atendimentos, são aplicados dois protocolos internacionais: o de Qualidade Vida em Voz, que busca compreender como a voz pode interferir nas atividades diárias, e o Questionário Autoavaliação Vocal para Transexuais, que avalia a autopercepção de uma mulher trans sobre sua voz. O resultado da cirurgia foi acompanhado via um software específico para Avaliação Acústica do Sinal Vocal.

“A paciente está apresentando uma qualidade vocal feminina, alcançando uma frequência de até 200 Hz. Antes da cirurgia, ela não conseguia atingir esse alcance, permanecendo em uma faixa de frequência de 120 a 140 Hz, que estava no padrão de dúvida em relação à identidade de gênero”, disse a coordenadora do Serviço de Fonoaudiologia do Helv, Wigna Raissa Matias. 

Davina relata os impactos positivos da cirurgia em sua vida, já que diminuiu a rouquidão e o desgaste em suas foz, além de evitar situações que lhe causavam disforia, que é quando uma pessoa não se sente confortável com as características masculinas ou femininas de seu corpo. Além do desconforto com sua imagem, a violência também era outro risco que a voz de Davina trazia em sua vida. “Fugir do timbre grave me dá um conforto maior para transitar pelo mundo sem ser atingida por certas violências. Já fui vítima de diferentes tipos de violência, inclusive física, e essa cirurgia é uma forma de evitar algumas dessas situações”, disse Davina Morais.

SERTRANS

O encaminhamento para cirurgias de feminização da voz é feito através da Central de Regulação do Estado. A busca pela cirurgia parte, principalmente, de pessoas em processo de transição de gênero, como as atendidas pelo Serviço Ambulatorial Transdisciplinar para Pessoas Transgênero (Sertrans). Para realizar o procedimento, as pacientes precisam fazer uso de hormonioterapia há pelo menos seis meses e ter acompanhamento psicológico há dois anos. Além da cirurgia, o equipamento oferece assistência de uma equipe multiprofissional formada por assistentes sociais, endocrinologistas, enfermeiros, psicólogos e psiquiatras.

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