Ter o nome “sujo” na praça tem se tornando uma preocupação na vida dos brasileiros e, sobretudo, na dos cearenses nos últimos anos. Segundo os últimos dados do Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor, o mês de maio registrou 2.785.390 pessoas inadimplentes no Ceará, devendo um total de R$ 9,3 milhões.
O número ultrapassa o registro do mês anterior, que era de 2.775.827 cearenses endividados, o que representa mais de 40% da população. Em Fortaleza, no mesmo mês, o Serasa registrou 1.123.906 pessoas negativadas, devendo mais de R$ 4,3 milhões.
A reportagem procurou o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) para saber os números da instituição, mas não teve retorno até o fechamento deste conteúdo. Na escala nacional, o Ceará é o terceiro estado do Nordeste com mais pessoas endividadas, ficando atrás apenas de Pernambuco (com 2,9 milhões de pessoas inadimplentes) e da Bahia, que lidera com 4,1 milhões de pessoas com o nome negativado no Serasa. Os números também foram registrados no mês de maio deste ano. No Brasil, o índice também é recorde, afetando 66 milhões de pessoas no país.
O número é o maior da série histórica da Serasa Experian, iniciada em 2016. Desde o início do ano, mais de 2 milhões de brasileiros se tornaram inadimplentes. Dívida é uma palavra que assombra a realidade do autônomo, Antônio da Silva, que trabalha no ramo de confecção há mais de 15 anos. Segundo o comerciante, os últimos seis meses foram os piores.
“Tive que pedir empréstimo para pagar dívidas. Consigo até sanar algumas, mas já entro em outra devido aos juros do banco, que correm rapidamente. Em dias, meu nome já está negativado novamente”, revela Antônio, que conta com a renda da esposa para tentar fechar o mês com as contas essenciais pagas, como luz, água e aluguel.
Ter o nome negativado pela primeira vez nos últimos dois meses foi um susto nas contas da publicitária Karol Silva, que recentemente tentou alugar um apartamento e teve seu cadastro negado na imobiliária. “Isso aconteceu em abril. Preparei toda a papelada, mas caí no Serasa com nome negativado por conta de um cartão de crédito que não paguei. Estou desempregada desde esse período, mas tinha reserva. Ainda assim, não adiantou”, lamenta.
Em nota ao OPINIÃO CE, a Serasa informou que disponibiliza 2.290.617 de ofertas com condições especiais de quitação de dívidas por até R$ 100,00 por meio do Serasa Limpa Nome. Os acordos podem ser realizados com mais de 100 empresas, como bancos, financeiras, companhias telefônicas, lojas de varejo, universidades e securitizadoras.
Além dos descontos, que podem chegar a 90%, também é possível parcelar os acordos. Com o pagamento da primeira parcela, o nome do consumidor será retirado do cadastro de inadimplentes. A gerente do Serasa Limpa Nome, Aline Maciel, alerta que “é fundamental concluir o pagamento das demais parcelas para que a dívida não seja retomada.”
Segundo o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, apesar do aumento da inadimplência ser esperado, é possível melhorar a situação. “Os consumidores precisam continuar se organizando financeiramente e utilizando ferramentas disponíveis, como o saque do FGTS para tentar tirar o nome do vermelho.”
Bancos e castões
A análise por setor registrou que o maior volume de dívidas negativadas está no segmento de bancos e cartões, com 28,2% do total. Em seguida estão as contas básicas como água, luz e gás agrupadas na área de Utilities, com 22,7%. Em terceiro lugar ficam os setores de varejo e financeiras, com 12,5% cada um.
Na comparação com abril de 2021, o setor “Financeiras” foi o que teve maior aumento na participação de inadimplência, indo de 9,6% para 12,4%. Já o recorte por faixa etária mostra que os inadimplentes estão, em sua maioria, nas faixas de 26 a 60 anos de idade (35,2%) e de 41 a 60 anos (34,8%).