O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) anunciou a seleção de 12 projetos prioritários para a criação de unidades de conservação federais no bioma Caatinga, a serem implantadas até 2026. A ação deve resultar no aumento de mais de um milhão de hectares das áreas protegidas. O Ceará está incluído na medida, por meio do Refúgio da Vida Silvestre do Soldadinho-do-Arararipe, unidade de conservação criada por meio de parceria entre o município de Crato e o Governo do Ceará. A unidade permite a preservação da espécie única, encontrada na região do Cariri.
Desde 2015, o Brasil tem uma Política Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, criada pela lei nº13.153, mas nos últimos anos o desmatamento da Caatinga avançou, segundo aponta o Relatório Anual do Desmatamento da Mapbiomas. Em 2023, por exemplo, mais de um quinto dos alertas de desmatamento em todo o Brasil foram no bioma. Ao todo, foram desmatados 201.687 hectares de Caatinga, com um aumento de 43,3% em relação a 2022. Os estados da Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte lideraram o crescimento dos alertas de desmatamento na região, mas 87% dos municípios no bioma registraram pelo menos um evento.
Além do Ceará, encontram-se em andamento as ampliações do Parque Nacional da Serra das Confusões, no Piauí, e da Floresta Nacional de Açu, no Rio Grande do Norte. “Os estudos da ciência estão nos mostrando que já temos uma ampliação das áreas que eram semiáridas e que estão ficando áridas. Isso é mudança do clima. Se a gente ‘descaatinga’ a Caatinga, a gente agrava o problema”, alertou a ministra do MMA, Marina Silva.
O anúncio foi feito em Pernambuco, nesta segunda-feira (10), durante o lançamento da campanha Terra, Floresta, Água – Movimento Nacional de Enfrentamento à Desertificação e à Seca. As iniciativas integram a Missão Climática pela Caatinga, que reuniu governos Federal e locais, além da participação do secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, Ibrahim Thiaw, no enfrentamento aos efeitos da mudança climática na Caatinga presente em 12% do território do País.
DESERTIFICAÇÃO
Segundo dados do MMA, a desertificação atinge 13% do semiárido brasileiro. São regiões onde a atividade humana e as variações climáticas determinaram a perda total da biodiversidade, da capacidade de oferecer serviços ecossistêmicos e até da capacidade produtiva do solo para segurança alimentar. Localizada integralmente no semiárido, a Caatinga só existe no Brasil e abriga uma biodiversidade única, com grande número de espécies endêmicas, que só ocorrem no bioma. As características, somadas ao fato de ter 60% de seu território ocupado por populações, fazem com que a vegetação nativa dessa região seja a mais suscetível às mudanças climáticas, segundo indicou o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU). Com informações da Agência Brasil.
SOLDADINHO
O decreto de criação da unidade de conservação (UC) Refúgio da Vida Silvestre (REVIS) Soldadinho-do-Araripe foi assinado em 2019. A categoria REVIS tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória. O nome é uma referência à espécie Antilophia bokermanni, popularmente conhecido como soldadinho-do-araripe, uma ave muito comum na Chapada do Araripe.
Os estudos que subsidiaram o processo de criação do REVIS foram realizados pela Associação de Pesquisa e Preservação do Sistemas Aquáticos (Aquasis) e analisados pela equipe técnica da SEMA. O Refúgio abrange o núcleo de ocorrência das espécies ameaçadas locais e está conectada com outras seis áreas protegidas e próximas: Floresta Nacional Araripe-Apodi, Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe, Parque Estadual Sítio Fundão, Monumento Natural Estadual Sítio Cana Brava, Reserva Particular do Patrimônio Natural Oásis Araripe e Arajara Park.