O Ceará possui de 30% a 40% dos diretores de suas escolas estaduais com curso de formação em gestão escolar. Dessa forma, a maioria dos diretores das instituições de ensino da rede pública de educação do Estado não possuem o curso em gestão escolar. Ainda assim, o Estado registrou uma elevação no número de profissionais do ramo com curso de formação. Em 2020, o Ceará possuía de 20% a 30% dos diretores formados. À época, Rondônia e Acre – com porcentagem entre 30% e 40% -, estavam à frente.
Apesar do índice ainda abaixo da metade, o Ceará aparece em terceiro no âmbito nacional, empatado com outras oito Unidades da Federação (UF). Acima, aparecem Piauí – entre 90% e 100% – e Brasília – entre 40% e 50%. Os dados são referentes a 2023 e foram divulgados nesta segunda-feira (15), pelo o Instituto Unibanco.
A pesquisa intitulada “Perfil dos(as) diretores(as) e desafios da gestão escolar nas redes estaduais de educação no Brasil” mostra que mais diretores da rede estadual de educação estão chegando ao cargo por meio de processo seletivo e eleição da comunidade escolar, em detrimento da indicação, traz dados de 2023 – os mais recentes – e de 2020 em relação aos dados estaduais.
Segundo Breno Salomon Reis, pesquisador responsável pelo estudo e consultor do Instituto Unibanco, a “heterogeneidade” dos dados na comparação dos estados mostra a importância das redes estaduais conhecerem o perfil dos diretores das suas escolas. “Elas [redes estaduais] não necessariamente conhecem, não sabem qual o perfil dos profissionais que estão atuando. Importante saber qual é a formação, se existe algum tipo de lacuna que é interessante cobrir, e qual é o objetivo que se quer alcançar com isso”, disse.
Conforme João Marcelo Borges, gerente de Pesquisa e Inovação do Instituto Unibanco, o estudo revela que os diretores não possuem sequer uma capacitação inicial. “Eles são professores que, em algum momento da carreira, viram gestores, sem receber formação adequada para isso. “Se os nossos professores são mal formados e os diretores sequer são formados para suas funções, é difícil gerar uma educação de qualidade. Acho que é conclusão que deve orientar o nosso trabalho adiante”, concluiu.
QUEDA DA CONTRATAÇÃO POR INDICAÇÃO
A pesquisa divulgada traz um aspecto positivo para a educação das redes estaduais escolares brasileiras. Conforme o levantamento, houve um aumento no número de diretores que estão chegando ao cargo por processo seletivo e eleição da comunidade escolar. Em 2019, o percentual já foi de 12,7%, mas chegou a 26,1% em 2023. Além disso, a pesquisa mostrou a queda da contratação por indicação da gestão, de 24% em 2019 para 20% em 2023.
Segundo especialistas, a forma de acesso ao cargo de direção e a origem dos profissionais têm impactos importantes na rotina escolar. Duda Quiroga, diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), ressalta a reivindicação por eleições diretas em todas as redes. “É a possibilidade de escutar a comunidade escolar. E isso é um processo de exercício da democracia. Dessa forma, é possível pensar em um projeto político-pedagógico a partir de cada realidade, com quem já tem um compromisso histórico com a rede. Tem toda uma relação de enraizamento”, afirmou.
“Quem vem de fora, contratado, pode olhar aquilo ali como passageiro. E se está vindo por indicação, a gente costuma dizer que está vindo como interventor também”, acrescentou.
A pesquisa fornece, ainda, outros detalhes sobre o perfil desses profissionais. Os números de 2023 indicam que 50,6% dos diretores de escolas estaduais eram brancos, 24,8% pardos, 4,5% pretos e 17,6% não quiseram declarar cor/raça. Em 2011, esses percentuais estavam em 55,7% de brancos, 33% pardos, 6,2% pretos, e menos de 2% não quiseram declarar.
Em relação ao sexo, o cargo era ocupado por 76,4% mulheres e 23,6% homens em 2011. Em 2023, o número de homens subiu para 33,5%, enquanto o de mulheres caiu para 66,5%. Quando se considera a faixa etária, só há dados a partir de 2013. Nesse ano, a maioria (45%) era entre 40 e 49 anos, seguida por 35% que tinham 50 anos ou mais. Em 2023, 50% estavam com 50 anos ou mais, enquanto 35% entre 40 e 49 anos.
Quanto à formação, em 2011, 33,6% dos diretores tinham graduação em pedagogia, enquanto 48% eram profissionais de outras áreas da educação (licenciaturas diversas, como história, matemática, letras, química, etc.). Em 2023, 38% eram formados em pedagogia e 55,2% em outras áreas da educação.
DESAFIOS DOS DIRETORES
O levantamento sobre os diretores de escolas estaduais do País também trata de algumas questões que podem ser desafiadoras na gestão. A primeira delas é referente à carga de trabalho semanal, que parece ter sido especialmente impactada pela pandemia da covid-19. Em 2021, em todas as regiões, mais de 60% dos diretores afirmaram trabalhar acima das 40 horas semanais. No período pré-pandemia, o valor oscilava entre 35% e 42%.
As atividades com mais demandas eram coordenar atividades administrativas (merenda, segurança, manutenção predial e afins), gerenciar recursos financeiros (prestação de contas e afins) e conduzir o planejamento pedagógico. Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, destaca algumas hipóteses para a sobrecarga.
“Uma delas foi a recomposição das aprendizagens. Os estudantes voltaram da pandemia com várias lacunas e isso exigiu um trabalho mais intensivo das escolas. Alguns diretores ofereceram reforço no contraturno. E eles tinham que decidir quais professores assumiriam o horário, em que salas, como organizar merenda e o transporte dos alunos”, disse.
Também foi investigado de que forma as escolas são afetadas pela ausência de recursos ou de pessoal. Desde 2015, há uma percepção generalizada de insuficiência dos dois. Em todas as regiões, menos de 50% dos diretores disseram que ambos os recursos eram suficientes para não afetar o funcionamento da escola.
A pesquisa explora questões de assiduidade dos docentes e estudantes, o que significa garantir que os dois grupos estejam em sala no momento da aula. A percepção de assiduidade sobre os estudantes variou entre 65% e 75% em 2019, para algo entre 50 e 60% em 2021. No caso dos professores, essa percepção foi entre 60% e 85% em 2019, e entre 75% e 90% em 2021.
Com informações da Agência Brasil.