A quadra chuvosa em Fortaleza, que ocorre de fevereiro a maio, coloca em alerta a população e Poder Público para o risco de transmissão de doenças. Uma delas é a leptospirose, transmitida pela urina do rato, e que pode levar ao óbito. Em 2021, o Ceará registrou um total de 45 casos da doença. Em 2022, o número mais que dobrou: foram registrados 97 casos de leptospirose. Do montante dos dois últimos anos, 13 pessoas morreram para a doença. Apenas nos primeiros meses de 2023, o Ceará já registra cinco pessoas estão infectadas.
As informações são da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa) em nota ao OPINIÃO CE. Em Fortaleza, já foram registrados 3 casos até o dia 27 de fevereiro deste ano, sem nenhum óbito. Conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Fortaleza registrou, de janeiro a dezembro de 2021, 29 casos de leptospirose e 3 óbitos. Em 2022 esse número aumentou, sendo 42 casos confirmados e 7 óbitos.
Segundo à vigilância epidemiológica da Sesa, a leptospirose é uma doença infecciosa febril de início abrupto, cujo espectro clínico pode variar desde um processo inaparente até formas graves, causada pela bactéria (espiroqueta) do gênero Leptospira, existindo mais de 14 espécies patogênicas, sendo a mais importante a espécie Leptospira Interrogans. Para a doutora em Saúde Coletiva com ênfase em agravos transmissíveis da Universidade Federal do Ceará, Caroline Gurgel Florêncio, não há risco de calamidade e não houve até hoje.
“Uma bactéria não consegue conseguir transmissão como um vírus. Ela não tem transmissão pessoa a pessoa, e se faz necessário que a pessoa tenha contato com a bactéria viável e está advém da urina do roedor. O homem nessa cadeia epidemiológica é um hospedeiro acidental. No roedor nem doença ela causa”, esclarece a docente.
Florêncio acredita que o principal desafio é proceder com o saneamento básico adequado no Ceará, principalmente nas regiões mais pobres, com risco de alagamentos. “É uma doença que possui um caráter socioeconômico muito forte. Dificilmente veremos uma pessoa com poder aquisitivo adequado com essa doença”, explica. As maiores frequências de notificações ocorreram em pessoas na faixa etária de 20 a 34 anos (389; 34,36%), do sexo masculino (954; 84,28%), da raça parda (881; 77,83%) e com residência na zona urbana (727; 64,22%).
Os dados são do Boletim Epidemiológico do Governo do Estado de fevereiro de 2022.
CENÁRIO
No período de janeiro de 2007 a dezembro de 2021 no Ceará, foram registradas 1.132 casos confirmados de leptospirose, com uma média de 75 casos ao ano. Observou-se que os coeficientes de incidência mantiveram uma tendência cíclica, com pico em 2009 (3,60 casos por 100.000 habitantes) e declínio expressivo no ano posterior, registrando 0,43 casos por 100.000 habitantes. No período, houve 107 óbitos por leptospirose no estado do Ceará, com uma letalidade de 9,45%. Identificou-se uma ciclicidade da letalidade nos triênios de 2009 a 2011 e 2015 a 2018, com posterior declínio nos três últimos anos da análise.
Para a médica, o comparativo de 2021 e 2022 não é recomendada devido à pandemia da covid-19 e as pessoas estavam em lockdown parte do período do ano de 2021. “Estávamos em lockdown no nosso período de chuva, o que reduziu a possibilidade de contato com água de locais inadequados. Ainda assim, a vigilância é necessária com certeza porque é uma doença que cursa de forma grave e com alta letalidade”, alerta.
Em 2009, o estado do Ceará registrou uma endemia com 303 casos, segundo o Ministério da Saúde, nacionalmente, no período de 2010 a 2020, foram confirmados 39.270 casos de leptospirose (média anual de 3.734 casos) no Brasil, variando entre 1.276 (2020) e 4.390 casos (2011). No mesmo período foram registrados 3.419 óbitos, com média de 321 óbitos/ano. A letalidade média foi de 8,7% e o coeficiente médio de incidência de 2,1/100 mil habitantes.
Algumas ocupações facilitam o contato com as leptospiras, como trabalhadores em limpeza e desentupimento de
esgotos, garis, catadores de lixo, agricultores, veterinários, tratadores de animais, pescadores, magarefes, laboratorialistas, militares e bombeiros, entre outras.