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13 de outubro de 2024

Caranguejo de água doce também foi encontrado em Missão Velha

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Espécie só havia sido identificada no território de Barbalha. Descoberta mostra que o animal pode ter habitado toda área de encosta da Chapada do Araripe

ANTONIO RODRIGUES
CORRESPONDENTE NO INTERIOR DO ESTADO
antonio.rodrigues@opiniaoce.com.br

Foto: Antonio Rodrigues

Pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (Urca) descobriram a incidência do caranguejo de água doce, batizado de guajá-do-araripe, no município de Missão Velha. De nome científico Kingsleya attenboroughi, a espécie endêmica da região foi descrita há seis anos e corre risco crítico de extinção. Até então, ela só havia sido encontrada no distrito de Arajara, em Barbalha, cidade vizinha.

Em trabalho publicado no início deste ano, os pesquisadores encontraram espécimes do guajá-do-araripe em um riacho no distrito de Missão Nova, município de Missão Velha. A descoberta leva a crer que o seu habitat se estendeu, há muitos anos, por toda a área de encosta da Chapada do Araripe, mas com o processo de aquecimento global, escassez de chuvas, desmatamento, os ambientes estão sendo fragmentados e o caranguejo acabou ficando ilhado.

O biólogo e professor da Urca, Allysson Pinheiro, um dos responsáveis por descrever a espécie em 2016, acredita que a descoberta indica que o caranguejo esteve em riachos perenes “nos últimos 100 mil anos.” Sua localização em Missão Velha também pode indicar sua habitação em outras áreas da encosta da Chapada do Araripe.

Um estudo do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) nos territórios dos municípios que compõe a Área de Proteção Ambiental (APA) da Chapada do Araripe, que inclui Ceará, Pernambuco e Piauí, verificou que a perda de área florestal é de 20 mil hectares por ano.

“Isso afeta a recarga de água e reduz a vazão das nascentes, impactando na fauna e na flora”, observou o analista ambiental Paulo Souza. No caso do guajá-do-araripe, poucos animais estão sendo localizados pelos pesquisadores da Urca que têm feito trabalho censitário para encontrá-los. “São poucos, muito poucos. Encontramos, em algumas ocasiões, apenas dez. Não são números animadores”, admite o pesquisador.

ESPERANÇA
Desde que foi descoberto, em 2016, pelos professores e pesquisadores Allyson Pinheiro, da Urca, e William Santana, da Universidade do Sagrado Coração (USC), de Bauru, São Paulo, o guajá-do-araripe tem recebido grande atenção para evitar seu desaparecimento.

A ameaça se dá pela redução do seu habitat natural. Assim como o soldadinho-do-araripe, outra espécie endêmica, este caranguejo necessita de território úmido e ocorre em pequenos riachos perenes na encosta da Chapada do Araripe.

Exemplares estão sendo mantidos em cativeiro e apresentaram bom desenvolvimento. A ideia agora é que sua reprodução seja feita em laboratório para serem levados aos ambientes protegidos. “Conseguimos filmar a cópula, ver como é a ritualização. Mas ainda não se reverteu em massa de ovos, na efetivação da reprodução”, explica Pinheiro.

Em 2018, quatro exemplares do caranguejo foram introduzidos na Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) da ONG Aquasis, no Crato. No ano seguinte, foi a vez de três machos e uma fêmea serem depositados nas proximidades da nascente do Arajara, onde acreditam que o caranguejo já habitou.

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