Cenário local diz respeito à geografia plana e ao momento climático do Ceará, que não tem perspectiva prolongada de novas grandes chuvas. Tragédia acumula mortos e desabrigados
Giovana Brito
ESPECIAL PARA OPINIÃO CE
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Apesar das tragédias recentes ocorridas em Recife e Maceió, ambas no Nordeste, e da aproximação geográfica, Fortaleza não corre o risco de ser atingida por desastres do tipo, apontam Silvrano Adonias Dantas, Marcio Avelino e Mariana Vela, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Entre os fatores ambientais que corroboram com o cenário de estabilidade para a capital cearense estão as médias de chuva acumuladas e os períodos de precipitações. Dantas explica as diferenças.
“O período chuvoso de maior intensidade nas regiões de Fortaleza e Recife não é coincidente. Aqui, em geral, ele se dá entre os meses de janeiro a maio. Lá, ocorre entre junho e agosto. Isto mostra que está justamente no início do período chuvoso de maior intensidade, enquanto que aqui estamos no fim da quadra chuvosa”, esclarece.
Os problemas que estão sendo vistos nos últimos dias ocorrem também devido ao aumento da ocupação de solos sem planejamento, fator que acontece em grande parte das cidades brasileiras, ocasionando tragédias no País. Para que ocorram deslizamentos é necessário que o ambiente possua características como relevo montanhoso com encostas naturais de grande altura formadas por solo argiloso e intensa pluviometria.
Nestas condições, o solo argiloso fica saturado com água das precipitações o que faz com que haja perda de resistência muito elevada provocando a sua ruptura.
“A nossa capital não tem nenhuma dessas características, pois é uma cidade cuja topografia é basicamente plana, formada por uma área sedimentar constituída por areia de duna. Mesmo algumas áreas um pouco mais íngremes existentes na cidade são formadas por solo arenoso, que se comporta sem muita influência das águas de precipitação.”
Mariana complementa ponderando que o solo inclinado é nomeado como talude podendo ser ocasionado de forma natural, ou com intervenção humana, sendo artificial. Em Fortaleza, a região é plana e isso faz com que a água não acumule e que a população não ocupe espaços em encostas, argumenta.
“Analisando a presença de taludes naturais, a cidade de Fortaleza é relativamente plana quando comparada com outras capitais do Nordeste como Recife, Maceió e Salvador. Esta seria uma das justificativas para não termos tantos eventos de movimento de massa ocorrendo por aqui.”
As enchentes também decorrem da presença de rio de grande volume próximo à região. “Em relação à enchentes, observa-se também que cidades nas quais ocorrem muitas enchentes é porque são atravessadas por rios de maior volume do que aqueles que existem aqui em Fortaleza. Aqui na cidade, os efeitos das precipitações são isolados, e ocorrem em partes da cidade onde há deficiência, ou insuficiência de drenagem pluvial”, justitica Dantas.
Devido a uma maior intensidade e frequência dos desastres, marcados pela escalada de perdas e prejuízos econômicos, sociais e ambientais e considerando a vulnerabilidade das pessoas e das comunidades, os governos estaduais intervieram nos últimos anos na aplicação de medidas para manejar o risco e diminuir as perdas causadas pelos desastres.
Dados oficiais mostram que o investimento em prevenção resulta em economia, e é o meio mais eficaz para alavancar o desenvolvimento local, contribuindo na melhoria das condições de vida.
No início deste ano, fortes chuvas atingiram Petrópolis, no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Estados como Bahia também foram vitimados. As tempestades deixaram inúmeras vítimas, pessoas desabrigadas e imóveis destruídos, além de afetar a infraestrutura rodoviária e espaços urbanos. O Brasil é atualmente o sexto país que mais sofre com catástrofes climáticas, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).