Som dos pássaros, junto com a imagem de fartura hídrica, é quase uma poesia desenhada pelo homem e pela natureza. Harmonia necessária
O barulho da água que emerge e ultrapassa a barreira de concreto é inconfundível. Se fecharmos os olhos é possível ouvir o som da queda d’água que apesar de pequena em tamanho é gigante em potencial. A poucos metros de distância o som é outro, de pássaros que repousam sobre galhos ainda secos que, só agora, começam a “beber água” pelas raízes fortes das árvores fincadas no solo sertanejo.
O som dos pássaros, junto com a imagem de fartura hídrica, é quase uma poesia desenhada pelo homem e pela natureza. Harmonia necessária. Tentei traduzir aqui as imagens que vi do açude Ubaldinho, que atingiu, ontem (8), a capacidade máxima. O reservatório, que fica no município de Cedro, no Centro Sul cearense, tem capacidade para armazenar 43 milhões de metros cúbicos de água.
Cada açude que sangra enche de vida a caatinga. Esse fenômeno mostra que a convivência com o semiárido é possível e que as intervenções do homem, se feitas da forma correta, são positivas. O que seria do sertão sem os açudes que começaram a ser construídos há mais de um século?
A engenharia de barragens evoluiu, as técnicas aumentaram e eficiência do armazenamento hídrico. A escolha dos locais e o respeito ao curso natural da água ajudaram a garantir maior aproveitamento da chuva e maior perenização dos rios que seguem para o mar.
É impressionante como fenômenos que já se repetiram muitas vezes são comemorados como se estivessem estreando. A explicação está no valor da água, ela significa renovação, renascimento, vida. Daí a celebração constante quando há fartura hídrica no semiárido.
O açude Ubaldinho, com seu sangradouro diferente, que lembra dentes rasgando o solo para a passagem da água, garante um lindo espetáculo, que enche os olhos, alimenta rios, banha lavouras e mata a sede dos sertanejos. O reservatório é símbolo de resistência.