É impossível para alguém passar despercebido ou desatento pela esquina da avenida Antônio Sales com a rua Carlos Vasconcelos, em Fortaleza. Um quarteirão antes já dá para ouvir o cantarolar de voz grave e os aplausos de pessoas. Carros no sinal vermelho – ou até mesmo verde – parados para ouvir uma voz única. Há mais de 20 anos, o Bar do Helano é esse verdadeiro ponto turístico – e porque não cultural – dos cearenses.
Conhecido nacional e internacionalmente, é ali, naquele bar homônimo, que Seu Helano Moreira Guimarães, de 64 anos, faz seus espetáculos que homenageiam grandes nomes da música brasileira: Waldick Soriano, Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Moacyr Franco e Cauby Peixoto fazem visita na figura de Helano, sempre no terceiro sábado de cada mês.
A história de Helano com a música não é nova. Desde os 14 anos, ele já mantinha um relacionamento sério com instrumentos e microfones. Os três formam a música que ele tanto ama. “Meus amigos e eu, sempre brincávamos de fazer aquelas bandinhas com instrumentos feitos de lata. Na época, eu ganhei o primeiro lugar como a mais bela voz da Lagoinha. […] Vim para Fortaleza, fiz parte do Coral do Jornal O Povo. Por sorte, cantei com Roberto Carlos, Milton Nascimento, Dominguinhos. Nessa época, eu aprendi várias técnicas vocais para trabalhar o diafragma”, revelou Helano.

Helano é naturalmente saudosista. No interior do bar, há vários vinis espalhados pelas estantes do teto. Os discos dividem espaço com cachaças que o músico ganhou e ainda ganha de presente dos amigos e admiradores. Também há o charme de algumas plantas espalhadas e um grande balcão de madeira onde quem manda mesmo é sua esposa, Eliete. Alguns famosos como Fagner, por exemplo, já foram fregueses habituais do Helano.
Mas…nem sempre foram rosas, como ele mesmo disse. Quando começou a idealizar o espaço, Helano e sua esposa tiveram alguns desafios para superarem até concretizar um bar com música ao vivo feita pelo próprio dono e permitir a entrada do público feminino, que antes não se via pela região. Atualmente, por ironia do destino, é o seu maior público.
“Eu passei por todos os inquilinos desse ponto até ele ser meu. Eu vi que nenhum dos donos anteriores tinha música ao vivo e tira gosto. Foi muito difícil porque na época os outros inquilinos não deixavam vir mulheres para o bar porque era um bar praticamente masculino. Quando eu assumi aqui, trouxe minha família inteira e foi tudo mudando”, contou.
A ideia de ser cover de cantores renomados veio logo em seguida. “Como eu uso chapéu preto há mais de 40 anos e por um acaso estava cantando uma música do Waldick Soriano, a ‘Eu Não Sou Cachorro Não’, as pessoas começaram a dizer que se eu colocasse uns óculos escuros ficaria idêntico. Isso acendeu a minha luzinha. Quando foi no outro fim de semana, eu não botei só os óculos, coloquei paletó, tudo completo. Nesse momento, tinha cinco meses de funcionamento do bar. Os motoristas no sinal paravam para assistir, a casa começou a encher rápido. E foi aí que eu comecei a fazer o cover do Waldick durante seis anos. Depois fui para Cauby, Roberto Carlos e vários outros”, disse Helano, emocionado.
O empresário mora no andar de cima do bar e é de lá que ele literalmente desce já performando seus ídolos. Quando desce como Roberto Carlos, o artista traz rosas vermelhas e brancas, paletó e tênis branco, a caráter. Oferece a todas as mulheres presentes, enquanto, atento, vê se está acabando a bebida ou comida do seu público. E se falta, logo ele olha diretamente para sua mulher ou para algum garçom e prontamente a comida ou bebida chega novamente à mesa. Toda essa movimentação acontece sem deixar, claro, de cantar ou até mesmo desafinar. Há, de fato, várias pessoas dentro do coração de Helano.

“Muita gente pede para que eu aumente o bar, mas eu acho o contrário. Eu gosto do aconchego. Não adianta eu aumentar para ficar me escondendo atrás de um balcão ou no escritório. Eu quero estar com o meu público. O meu diferencial é esse: estar em toda mesa, servindo, abraçando as pessoas. No meu cover do RC, eu dou uma rosa para toda mulher que vem ao meu show. No cover de Cauby, eu inventei de dar lencinhos também. Meu verdadeiro sonho é que isso aqui perdure por muito, muito tempo. Isso aqui é a minha vida”, falou o músico com os olhos marejados.
PANDEMIA
Com a pandemia, Helano se endividou, mas não desistiu. Passou oito meses fechado e teve que se reinventar para conseguir renda. “Durante esse período, eu fiz 289 lives pelo Facebook. Com isso, consegui arrecadar dinheiro de todo o Brasil, e fora também: de Portugal, Itália, França, Argentina”, contou.
Questionado sobre o que ele sabe do amor, Helano sem titubear e levantando uma dose de whisky com a mão direita, olha em direção ao balcão do bar e exclama: “o amor para mim…eu estou olhando para ela. Foi ela que me deu a força. Tem gente que ainda me pergunta: você ainda está com a sua mulher? E eu respondi: sim, há 33 anos. Eu era namorador, saia com seis mulheres numa noite, sem rumo. Mas quis mudar, fui conhecendo ela, foi ficando sério e atualmente eu sou o Helano também por causa dela. O amor é o respeito, a amizade e o carinho pelo ser humano. Por isso, o meu slogan é o bar de fazer amigos”.
Claudete Lopes é assídua no Bar do Helano desde 2015. Ela e mais cinco amigas vão ao local toda sexta e sábado para ouvir Helano e se encontrar para falar da vida. “Eu venho para cá fazer amigos, sou assídua. É muito bom ouvir ele cantar, com simplicidade, com amizade. É a minha segunda casa”.
Helano confirmou que não sabe o que sonhar mais porque já vive o que sempre amou: fazer amigos com a música.
“A música para mim é tudo. Tudo que eu faço é cantarolando, sempre aprendendo. Cada noite de música é diferente. Toda noite é diferente. É algo que vai me levar ainda muito longe. Isso aqui é a minha vida”, concluiu.