Presidentes do Senado e das Comissões de Direitos Humanos da Casa e da Câmara pedem justiça a Dom Phillips e Bruno Pereira. Anderson Torres fala em “crime cruel” e Bolsonaro pede que “Deus conforte o coração” dos familiares de ambos
Ingrid Campos
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A confirmação, na noite da última quarta-feira, 15, das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips repercutiu, com declarações e silêncios, entre autoridades políticas nacionais.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), lamentou o ocorrido e pediu justiça. “É com enorme pesar que recebo a notícia de que foram encontrados os restos mortais do indigenista Bruno Araújo e do jornalista Dom Phillips. Em respeito às vítimas, à Amazônia e à liberdade de imprensa, espero que todos os criminosos envolvidos sejam punidos com o rigor da Lei.”
Até o fechamento deste conteúdo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), não havia manifestado sobre o assunto. Presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, Humberto Costa se pronunciou logo após a confirmação. “Recebi com profunda tristeza e enorme indignação a notícia do assassinato de Bruno e Dom. A confirmação desse crime cruel é a demonstração cabal da omissão do governo Bolsonaro, que tem permitido que grupos criminosos dominem a região. Queremos justiça!”
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Orlando Silva (PCdoB-SP), classificou como “trágica e, infelizmente, já esperada” a notícia. “Retrato de um Brasil que estimula a criminalidade. É preciso que a comunidade internacional veja o que acontece sob esse governo nefasto. Não podemos mais tolerar a barbárie. Justiça por Dom e Bruno!”
O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), pelas redes sociais, também lamentou as mortes. “Minha solidariedade às famílias. Agradeço a todas as forças de segurança, em especial aos nossos homens do Corpo de Bombeiros e das Polícias Civil e Militar, que foram decisivos nas buscas.” Nenhum dos citados, contudo, mencionou os grupos indígenas da região que ajudaram nas buscas por Dom e Bruno.
Ao jornal Folha de SP, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torrer, ponderou que se trata de “um crime cruel, uma maluquice.” “Me solidarizo com a família dos mortos. Estou profundamente triste pelo acontecido. Ninguém gostaria de encontrar restos mortais de ninguém […].” Ontem (16), cerca de 15 horas após a notícia, Jair Bolsonaro (PL) postou nas redes sociais uma mensagem.
“Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos!” Horas antes da coletiva da Polícia Federal (PF) que noticiou os assassinatos, o presidente da República havia afirmado que “tudo indica” que o caso seria “desvendado” e esclarecido nas horas seguintes. “Esse inglês, ele era malvisto na região. Porque ele fazia muita matéria contra garimpeiro, a questão ambiental… Então, aquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio. E resolveu fazer uma excursão.”
“Os dois resolveram entrar numa área completamente inóspita sozinhos, sem segurança e aconteceu problema”, completou Bolsonaro em entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube. O vice Hamilton Mourão (Republicanos) também mencionou a periculosidade da área, mas não havia lamentado o ocorrido até pelo menos o final da tarde de ontem. Mourão apontou que Dom Phillips e Bruno Pereira correram riscos por entrar em uma área perigosa e sem a escolta necessária de autoridades. “É uma região inóspita. Do lado peruano uma série de ilegalidades acontece, do nosso lado também.”
VISÃO DA UNIJAVA
Para a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), o assassinato dos dois trata-se de um crime político. “Ambos eram defensores dos direitos humanos e morreram desempenhando atividades em benefício de nós, povos indígenas do Vale do Javari, pelo nosso direito ao bem-viver, pelo nosso direito ao território e aos recursos naturais que são nosso alimento e garantia de vida, não apenas da nossa vida, mas também da vida dos nossos parentes isolados”, declarou, em carta aberta.
A entidade também informou que enviou “uma série de ofícios com informações qualificadas ao Ministério Público Federal (MPF), à PF e à Fundação Nacional do Índio (Funai)”, em que indica a composição de uma quadrilha de pescadores e caçadores profissionais vinculados a narcotraficantes que ingressaram ilegalmente no território para extração e venda de recursos naturais.