Naquele fatídico ano de 2020, marcado pelo apogeu da peste de Covid – por ali, em outubro, eu recebi uma ligação. A voz de homem maduro, se identificou. E, logo, perguntando se eu tinha algum livro ou algum material escrito falando de Augusto Pontes. Falou-me da saudade de suas conversas e da necessidade de um livro ou trabalho de pesquisa sobre o amigo que chamou de inteligente, e, claro, concordei. No início do ano de 2021, o querido Ricardo Bezerra, para a minha alegria, ligou-me convidando a participar de um livro sobre o Augusto Pontes. Um ano depois, com a participação de muita gente boa mesmo, o livro “Augusto Pontes: o amigo genial” ficou pronto. Sábado, dia 14 de maio, primeiro um lançamento na biblioteca pública e no final da tarde e noite, no Cantinho do Frango.
Devo admitir, fazia muito tempo que não encontrava tanta gente interessante junta em um ambiente. No palco, um piano e um violão à disposição. Alano de Freitas, tocou piano, inclusive John Coltrane, Humbertinho Pinho e Arnaldo Sá ao violão lembraram várias das canções do “pessoal”, mas foi Chico Pio quem deu um brilho especial tocando canções de Fagner, Belchior e com Ednardo fazendo duetos como na envolvente e quase um hino da turma, a canção “Carneiro”, de Augusto Pontes e Ednardo:
“Amanhã se der o carneiro, o carneiro / Vou m’imbora daqui pro Rio de Janeiro / As coisas vem de lá / Eu mesmo vou buscar / E vou voltar em vídeo tapes / E revistas supercoloridas”.
Sim, parte dessa turma foi ao Sudeste, gravaram e voltaram famosos. O artista e grande ator Ricardo Guilherme arrancou aquela emoção coletiva ao declamar de Augusto Pontes e Petrúcio Maia a canção, Lupicínica:
“Vamos acabar com essa briga, amor / Que eu estou cansado / Deite aqui ao meu lado e não fale mais / Que eu estou calado (…) / Quantas vezes eu mudei de conversa / Pra não falar / Tantas vezes eu dobrei a esquina pra não ver (…) / Mate-me, que eu já te matei / Inutilmente bêbado / Triste como um peixe afogado / Na madrugada sonolenta / De bolero em bolero / Acorda-me daqui a pouco / Você está com a vida que pediu a Deus”.
Eu não sei se para a grande maioria das pessoas presentes de gerações distintas, mas ao subir ao palco, Fausto Nilo deu uma aula com suas reminiscências já escritas no livro – “Naquele tempo sem tevê, quando andávamos pela rua, eu sempre via o cara de longe. Ele estava sempre nos programas de auditório, nos quais era campeão absoluto em responder a perguntas de almanaque. Ele era visto também nos eventos do Theatro José de Alencar ou nas livrarias pelo centro da cidade. (…) Era muito pálido, magro, com um topete tipo Chet Baker. Em 1965, eu o conheci no Restaurante Universitário”.
Pois é, via-se Augusto Pontes no Teatro Universitário, nos Departamentos de Física, do Direito, da Medicina, da Arquitetura na UFC; no Bar “Balão Vermelho”, no Estoril, no Bar do Anísio fazendo e finalizando letras de canções, organizando eventos memoráveis como o Massafeira com o Ednardo, atuando como Secretário de Cultura, andando pela Rádio Universitária, e mais recentemente, pelo Cantinho do Frango… e ainda parece caminhar em memórias pelas ruas da cidade.