O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, disse, neste último domingo (12), em Tremembé (SP), que o grupo que atacou a tiros o assentamento Olga Benário, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizado no interior de São Paulo, pretendia subtrair um lote de terra da comunidade rural, legalizado para a reforma agrária.
A ação dos criminosos, na noite de sexta-feira (10), resultou na morte de dois membros do movimento social, além de ter deixado seis pessoas feridas, que precisaram de atendimento hospitalar. Segundo o MST, foram mortos a tiros Valdir do Nascimento, conhecido como Valdirzão, de 52 anos, uma das lideranças do assentamento, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos.
“Eles [os membros do MST] estavam dentro do assentamento, não estavam perturbando ninguém. E [os atiradores] quiseram subtrair um lote, eles [os assentados] foram defender o lote. Isso aconteceu às cinco da tarde. Às oito da noite, chegou esse grupo de vândalos e atirou, levando à morte já dois desses assentados”, destacou Teixeira, em entrevista coletiva.
Ainda segundo Teixeira, a ação criminosa não irá constranger o programa de reforma agrária do governo federal, que irá avançar no sentido de assentar pessoas, garantir produção de alimentos e segurança. A expectativa é que a Polícia esclareça a autoria e o mandatário do crime. “Que possa haver segurança a esses assentados que querem tocar sua vida, querem produzir alimentos”, acrescentou o ministro.
O CASO
Ainda no sábado (11), a Polícia Civil de São Paulo informou que um dos suspeitos de matar as duas pessoas que estavam no assentamento foi preso. Conforme a Polícia, o detido, apontado como mentor intelectual do crime, é conhecido como Nero do Piseiro e já tinha passagem criminal por porte ilegal de arma de fogo. Ele foi reconhecido por testemunhas que viram os criminosos chegando ao local em carros e motos.
A ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, também presente no velório das vítimas, em Tremembé, reafirmou o compromisso do governo federal na apuração do caso.
“A gente está aqui hoje, a pedido do presidente Lula, para reafirmar o nosso compromisso de governo com a apuração dos fatos. Do ponto de vista do Ministério dos Direitos Humanos, para dizer que a nossa equipe estará aqui acompanhando as famílias, fazendo uma escuta individual e construindo coletivamente uma proposta para que se tenha proteção coletiva”, reiterou a ministra.
A ministra ressaltou ainda que os movimentos sociais estão correndo risco no estado de São Paulo, e defendeu que novas medidas protetivas sejam feitas. “Seguimos em luta e a gente sabe que aqui em São Paulo a gente precisa dar uma atenção muito especial, porque nossos movimentos estão sob linha de fogo e linha de tiro. E o nosso povo não pode perecer por força dos algozes, que são aqueles poucos que acham que são donos de todas as riquezas do nosso país”, disse.
Para Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, área em que está instalado o assentamento em Tremembé desperta o interesse imobiliário de grupos criminosos devido à localização privilegiada, próximo a regiões urbanizadas.
“Essa é uma região de muitos assentamentos próximos às zonas urbanas e, portanto, motivo da sanha do capital imobiliário local. Primeiro, invadindo áreas de reservas florestais e depois invadindo lotes dentro dos assentamentos com o objetivo de transformar esses em áreas de condomínios, de especulação imobiliária”, disse.
Ainda segundo ele, o avanço dos grupos criminosos conta com a participação de milícias armadas e de políticos locais, como a que cometeu os crimes na sexta-feira. Em nota, o Partido dos Trabalhadores (PT) pediu uma reação “forte e imediata” das autoridades de segurança do estado de São Paulo e também da Polícia Federal.
“O ataque covarde e brutal deixou fortes indícios de ter sido planejado e executado por bandidos de uma facção criminosa, a serviço de especuladores do ramo imobiliário local, que tem interesse em se apropriar das terras do assentamento, legalizadas pela reforma agrária”, completou a sigla
Conforme o partido, ameaças e ataques semelhantes a esse têm ocorrido em outros assentamentos com condições parecidas ao Olga Benário. “Trata-se de um crime contra o país, contra a paz, a segurança e os direitos da população. Esta violência não pode ficar impune, sob pena de que ataques dessa espécie se alastrem pelo país”, concluiu.