Após a Secretaria Municipal de Infraestrutura de Fortaleza (Seinf), por meio do secretário Samuel Dias, compartilhar um vídeo em suas redes sociais afirmando que a Prefeitura estaria fazendo sua parte para resolver a situação, o Coletivo Nossa Iracema, através de André Comaru, denunciou nova contaminação no local. Segundo ele, aliás, a Prefeitura estaria também ‘aterrando’ novamente o local, o que seria um “crime ambiental”. Ao OPINIÃO CE, a Seinf afirmou que a situação estará solucionada quando forem cessadas as ligações clandestinas.
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Na última quarta (6), o Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) realizou um novo estudo no local, no qual foi verificado que a areia próxima à galeria estaria contaminada. Conforme a pesquisa, a areia seca estaria com 7500 NMP/100g e a areia molhada com 43000 NMP/100g. A professora Oscarina Silva, responsável pela coleta, explicou que o estudo foi realizado em um raio de até cinco metros de distância da galeria. Segundo Oscarina, o termo “NMP/100g” significa o Número Mais Provável de Bactérias Escherichia coli (bactéria indicadora de contaminação por material fecal) por 100 gramas.
Ainda conforme ela, o dado preocupa, pois mostra que os frequentadores da praia estão se expondo à areia que recebe aporte de matéria de origem fecal, indicando a presença de bactérias, fungos e vírus “potencialmente patogênicos nesse ambiente”. A professora explicou a contaminação da areia. “É resultado de uma fonte de contaminação pontual se analisarmos os dados. Quanto mais próximo da água de saída da tubulação maior o número de bactérias entéricas na areia”, disse. De acordo com Oscarina, na areia não há a diluição da contaminação, ou seja, as bactérias ficam retidas e concentradas no local.
Ao OPINIÃO CE, Comaru disse que a situação se trata de um problema histórico. No entanto, uma situação teria agravado o problema. “No dia 11 de outubro, quando o secretário Samuel Dias, durante a obra de requalificação da Praia de Iracema, desentupiu a galeria que só estava saindo esgoto e nivelou a areia, fazendo com que a água chegasse ao oceano”. Ainda conforme o integrante do coletivo, o titular da Seinf teria realizado um primeiro “aterramento”. “Para resumir, ele disse que a Prefeitura tinha trocado o líquido e trocado toda a areia. Depois da troca de areia, estaria tudo limpo, isso no dia 27 de novembro. No dia 4 de dezembro, coletamos novamente com a UFC, e o resultado saiu que a região estava completamente contaminada com coliformes fecais”.
“No mesmo dia 6 eu fui lá, filmei, e o esgoto estava completamente aberto, com mau cheiro e rato. No dia 8, a prefeitura passou o dia na praia ‘aterrando’ mais uma vez, recebemos vídeos e esses vídeos a gente postou (…) falando da grande contradição da Prefeitura de Fortaleza e da Seinf, que está tentando ‘aterrar’ um crime ambiental sem fazer a solução“.
Nesta sexta (8), a Seinf afirmou não ter realizado um aterramento. “A gestão municipal realizou a limpeza da área da praia removendo toda a areia contaminada do local para o aterro sanitário. A água suja que estava empoçada na faixa de praia também foi completamente drenada por caminhões de sucção e destinada ao emissário de esgoto. Somente depois disso, a área escavada foi reaterrada”, disse a pasta, que reforçou que com as chuvas dos últimos dias, a Prefeitura tem reforçado os serviços de limpeza da região.
ESTÃO “MAQUIANDO” O PROBLEMA
De acordo com André Comaru, no entanto, o problema está longe de ser resolvido. Segundo ele, a Gestão estaria enterrando um problema que vai aparecer com as chuvas. Ainda conforme o integrante do Coletivo, a Prefeitura estaria “maquiando” o problema, pois “não teriam tempo suficiente para resolvê-lo antes da festa de Revéillon”. Na noite desta última sexta, Comaru visitou o local novamente para verificar a última ação da Prefeitura. Na galeria, ele filmou que o aterramento ainda conta com uma poça contaminada, como pode ser visto em vídeo enviado ao OPINIÃO CE. Confira:
Ele disse ainda que esse é um problema histórico, mas que a região está passando pelo seu “pior cenário”. “Na primeira vez temos a galeria desentupida e nivelada com o oceano. Temos pela primeira vez o estudo da quantidade de esgotos clandestinos na nossa orla, e esse número só vem aumentando. Temos, hoje, o maior caos”.
A “SOLUÇÃO”
Conforme André, há uma solução para esse problema da Praia de Iracema. Como explicou ele, a Cagece teria apresentado uma solução, que seria por meio do bombeamento dessa água para levá-la de volta ao reservatório, tratá-la e levar novamente ao emissário. A “tomada de tempo seco”, segundo a Seinf, vem sendo realizada pela Prefeitura desde o último mês de novembro. “A Prefeitura executou uma estrutura de desvio do fluxo da rede de drenagem que convergia para a praia, direcionando esse fluxo direto para a emissão de esgoto da Cagece. O projeto (…) permite o bloqueio do fluxo durante o período do sol“.
“Mesmo com essas medidas, ainda é possível que ocorra alguma contaminação residual, sobretudo em época de chuva. Afinal, a única solução definitiva é que cessem as contribuições de esgoto da rede da Cagece e das ligações clandestinas de esgoto de particulares depositadas na rede de drenagem, com o tamponamento das mesmas”, completou a Gestão.
A Prefeitura continuou, afirmando que segue acompanhando os dados referentes à balneabilidade da Superintendência Estadual do Meio Ambiente [Semace]. A Semace, por meio do Boletim de Balneabilidade, afirma que a região está própria para banho do dia 4 ao dia 10 de dezembro. Sobre o laudo do Labomar, a pasta municipal afirma que “não tem conhecimento do mesmo” e que “aguarda o recebimento do documento”.