O aumento das apostas em cassinos online, como o polêmico jogo do Tigrinho, tem causado uma onda de preocupações no setor produtivo e no cenário econômico brasileiro. Com o crescimento dessas plataformas, mais de 1,3 milhão de pessoas são impactadas pela inadimplência, o que afeta diretamente empresas que enfrentam quedas de produtividade e aumento de demissões.
Segundo um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o setor de apostas online movimentou R$ 68 bilhões entre 2023 e 2024, mas as consequências negativas começam a aparecer. Especialistas projetam uma perda de até R$ 117 bilhões no varejo e uma queda de 11,2% no faturamento do setor devido à crescente participação de brasileiros em jogos de azar. Empresas de diversos segmentos relatam que funcionários estão deixando o emprego por conta do vício em apostas e alguns estão até recorrendo a agiotas para cobrir dívidas.
A sócia-diretora do Grupo Atitude Serviços, Laís Soares, aponta que o impacto desse cenário nas empresas é grave. “O vício no jogo do Tigrinho está criando um ciclo de falta de foco, ausências no trabalho e demissões. Isso afeta diretamente o desempenho das empresas e a segurança financeira dos colaboradores”, alerta.
No Ceará, ela cita o exemplo de sua própria empresa, onde, após pesquisa interna, levantou que 10,5% dos funcionários jogam o jogo do tigrinho.
“Estamos tendo um aumento grande em faltas e pedidos de demissão dos funcionários endividados nos jogos de azar. A quantidade de funcionários que abandonam o emprego para tentar fugir das dívidas, principalmente das cobranças de agiotas, triplicou. Relatos de colaboradores que pegaram dinheiro com agiotas a juros de 30% ao mês para bancar o vício têm se tornado comuns”, contou Laís Soares.
O problema é ainda mais preocupante ao observar os dados do Banco Central, que revelam que em agosto de 2023, beneficiários do Bolsa Família gastaram cerca de R$ 3 bilhões em casas de apostas eletrônicas, usando transferências via Pix. Isso levanta questões sobre a regulamentação do setor, com o senador Omar Aziz (PSD-AM) já articulando ações junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) para suspender temporariamente essas plataformas até que sejam devidamente reguladas.
Para evitar o avanço, a executiva aconselha as empresas a tomarem medidas preventivas.
“É essencial investir em programas de conscientização e apoio aos colaboradores. Oferecer palestras e suporte psicológico pode ajudar a identificar e tratar o vício em jogos de azar antes que a situação leve a demissões ou a problemas financeiros mais graves para as empresas e funcionários”, explica a empresária.
A situação evidencia uma crise que, se não for controlada, pode se expandir rapidamente, não apenas no setor empresarial, mas também em áreas sociais, agravando o endividamento de milhões de brasileiros e fomentando práticas financeiras prejudiciais, como o recurso a agiotas para cobrir dívidas de jogo.