Vindo de grandes conquistas e decepções, a implementação de uma SAF no Ferroviário pode representar uma grande evolução para o clube e gerar uma maior estabilidade para o time. O Tubarão da Barra conquistou o título do Campeonato Brasileiro da Série D em 2023, o que gerou uma grande expectativa por parte dos torcedores. Entretanto, logo no ano seguinte, o time lutou para não cair até o fim da competição e se viu ser rebaixado com uma rodada de antecedência. Desde então, a diretoria do clube já estudava e preparava uma possível implementação da Sociedade Anônima de Futebol (SAF).
Nesta segunda-feira (30), o Conselho Deliberativo do Ferroviário Atlético Clube se reúne para discutir a venda de sua Sociedade Anônima do Futebol. Logo após a reunião, o clube deve divulgar a proposta final de forma detalhada. Este é o último dia de encontro antes da votação na qual os conselheiros e sócios-torcedores poderão decidir a venda da SAF.
Os torcedores que estejam adimplentes por pelo menos três anos, estarão aptos para votar no dia 3 de janeiro, às 18h, na sede administrativa do clube. Vale ressaltar que a criação e venda da SAF será efetivada apenas com a participação de todos os associados do clube na Assembleia Geral Extraordinária. A proposta inicial tem como tópicos principais a reconstrução do Centro de Treinamentos, investimentos nas categorias de base e a quitação da dívida do clube, que gira em torno de R$ 2 milhões.
No atual cenário, diversos clubes enxergam a SAF como a única via para solucionar problemas financeiro e trazer uma maior organização
Em entrevista ao Esportes O POVO, o vice-presidente do Ferroviário, Pedro Bruno Amorim, apontou alguns problemas e falta de transparência na condução do processo, revelando os valores detalhados do que será investido. Com o investimento de R$ 110 milhões ao longo de 12 anos, a proposta atual prevê venda de 90% das ações da SAF para um grupo europeu, além do pagamento das atuais dívidas do Tubarão.
Contudo, o vice-presidente aponta que esse valor inclui a somatória dos orçamentos anuais, previstos em R$ 10 milhões — patamar que o clube já atingiu em 2023, por exemplo —, com o time cearense recebendo apenas R$ 500 mil de aporte inicial dos investidores.
A minuta de proposta inclui a reconstrução do Centro de Treinamento (CT) Elzir Cabral, melhorias nas categorias de base e investimentos no futebol profissional. Pedro Bruno destaca que, até a presente data, a proposta oficial não foi apresentada ao conselho de forma definitiva.
“O aporte inicial é R$ 500 mil. Estão prometendo que vão ter um orçamento anual de R$ 10 milhões. O Ferroviário já teve. Ferroviário fechou o ano com R$ 11 milhões em 2023. A folha do salário na Série C era de R$ 700 mil. R$ 500 mil é a promessa de investimento inicial. Em estrutura, é de R$ 9 milhões, sendo R$ 2 milhões nos próximos 24 meses e o resto em 48 (meses)”, conta.
Possíveis vícios jurídicos e alterações questionadas. De acordo com Pedro Bruno, o primeiro ponto controverso ocorreu em 20 de dezembro, quando o presidente do Conselho Deliberativo, Abdon Paula Neto, convocou duas reuniões que datavam os dias 26 e 30, com o objetivo de apresentar e discutir a proposta da SAF. Para o vice-presidente do clube, as datas foram escolhidas de forma estratégica pela proximidade às festas de fim de ano. O requerimento de Pedro solicitando alteração foi recusado, apesar de, segundo ele, o prazo de divulgação do dia da votação da mudança estatutária não ter sido cumprido. O processo, segundo Pedro – também advogado e ex-Secretário Geral da OAB-CE – sofreu modificações sem justificativa clara. Ele aponta como grave a alteração do edital de convocação, que mudou o termo “deliberar” para “apreciar” — o que, na prática, transformou as reuniões em apenas informativas, sem votação.
“Como iria ter uma deliberação sobre a SAF, ela por si só já altera o estatuto, muda a competência da presidência, muda a competência do conselho, as disposições financeiras mudam, porque toda receita vai para a SAF, assim como o departamento de futebol. Ele indeferiu. Antes de indeferir, houve uma alteração do próprio texto do edital e isso é o maior absurdo que eu já vi. Eles alteraram o texto e tiraram ‘deliberar’ (voto dos conselheiros), seria só apresentação”, critica.“Eu entendo que essas reuniões são nulas, pois houve uma alteração de documento público. E, para nossa surpresa, no dia 26 não foi apresentada a proposta. O que apresentaram foi um slide, um ‘powerpoint’ de quatro linhas, dizendo mais ou menos como seria, porque ele não apresenta o contrato propriamente dito”, complementa.
“Não há nenhuma irregularidade. O requerimento que foi apresentado alegava que a data de convocação da reunião do Conselho Deliberativo estava fora do prazo estatutário por que não obedeceu o prazo de 10 dias úteis. Ocorre que tal prazo deve ser obedecido, segundo o estatuto, apenas quando se tratar de reuniões ordinárias e extraordinárias, apenas nas hipóteses de reforma do estatuto do clube ou vacância de cargo de presidente, e não se tratar nem de um caso, nem de outro”, argumenta. A Assembleia Geral Extraordinária, marcada para 3 de janeiro de 2025, será o momento crucial para decidir o futuro do Ferroviário. Apenas sócios-torcedores adimplentes há pelo menos três anos e conselheiros do clube poderão votar. Contudo, Pedro Bruno alerta que ainda não há uma lista de votantes definitiva.“É no mínimo imoral se fazer a venda de um clube na maneira que está acontecendo […] Eu entendo que o Conselho deveria ter tido acesso à proposta para deliberar melhorias, assim como os sócios-proprietários e os sócios-torcedores, e depois encaminhar a proposta final para a Assembleia”, indica.