Em 2018, lembro ter ouvido falar de um certo filme “Antonia – Uma Sinfonia” que estaria concorrendo a estatueta do Oscar. Não gosto de perder o precioso tempo procurando filmes para preencher as horas disponíveis. Ontem, depois de ler a sinopse assisti a película. Baseado na história real da holandesa Antonia Brico na Nova York, ali, do crack da bolsa em 1929 e início dos anos 30. Depois de sofrer uma desilusão amorosa, sua mãe, solteira e sem condições de sustentá-la anunciou a venda da filha em um jornal de forma temporária.
Quebrando o contrato, os pais adotivos a levam escondida aos Estados Unidos. Sabendo do gosto e encantamento da “filha” pela música seu pai, um lixeiro – ao encontrar um piano jogado na rua, o leva para casa como presente para a filha. Mas, como estudar piano em um apartamento de paredes conjugadas e com vizinhos que gostavam e reclamavam da sonoridade do instrumento?
Antonia (interpretada maravilhosamente pela atriz Christanne de Bruijn) precisava pôr um pano sobre as teclas para reduzir a sonoridade. Triste né! Para quem não sabe, os maestros e orquestras, até os anos 30, eram regidas, formuladas e executadas por homens. Eis, o problema – jovem pianista desejava ser maestrina. Dá para imaginar a batalha, as humilhações, sofrimentos e negações de professores e de maestros que se recusavam em dar aula a uma mulher, ainda que pagasse.
Diante da exploração da madrasta e para pagar pelas aulas de piano e, assim, ter acesso ao mundo da orquestração, se dispôs a tocar em um cabaré. Acreditem, com raiva da moça, a dita mãe quebrou o velho piano e o fez de lenha. Sem moradia, a jovem pianista recebeu guarida do também pianista e baixista Robin Jones (interpretado por Scott Turner Schofield) que na trama se traveste de homem para ter acesso ao mundo da música. Triste, essa condição social de músicos e artistas – quem não se lembra da história de Edith Piaf?
Depois de ser expulsa do teatro onde trabalhava como recepcionista nas apresentações de música clássica, Antonia com o apoio de uma elite e de parte da população dos Estados Unidos, dá a volta por cima, com sua orquestra feminina. Assim como Antonia Brico e a cantora Edith Piaf, outras mulheres fizeram história, ali nos 30 e 40, como a pintora Frida Kahlo, a aviadora Amelia Earhart e a nossa guerreira-cangaceira Maria Bonita.