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20 de abril de 2025

Análise: o funk voltou a ser pauta nacional

Especialistas ouvidos pelo OPINIÃO CE desenham histórico da aceitação social do ritmo no Brasil e falam de preconceito institucionalizado e da importância de quebrar tabus relacionados ao funk
Foto: Reprodução/Facebook

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Ian Magalhães
ESPECIAL PARA OPINIÃO CE
ian.magalhaes@opiniaoce.com.br

Na noite da última segunda-feira, 11, a cantora Anitta falou, em seu Twitter oficial, sobre o espaço do funk nas atrações do Rock In Rio 2022. No comentário, a artista revelou que o ritmo ainda não ocupa o lugar que merece no festival. “O funk só estava lá pq foi obrigado a ser engolido pelo festival…

“ Para Luiz Botelho, doutor em Sociologia ouvido pelo OPINIÃO CE, existe uma estratificação das formas e dos gêneros musicais dentro da sociedade, na qual o funk é hierarquizado como inferior a outros gêneros, que ficam com maior prestígio. “Você nunca imaginaria que seria feito um concerto de funk, mas um concerto de violino e piano tocando sonatas é possível. Então, há uma estratificação prévia do funk muito mais por critérios sociais do que por critérios musicais.”

“A visibilidade, o prestígio e o respeito vão depender da origem e da inserção social do gênero musical, de quem vai utilizar essas formas como elemento de expressão e de onde elas vão circular. São critérios extramusicais, como critérios sociais e critérios de mercado”, complementa. O especialista também fala sobre o espaço do funk e a importância do ritmo na sociedade atual.

“É mínimo, do ponto de vista de hegemonia. Mas ele é uma forma musical fundamental, porque emerge das condições que são dominadas e discriminadas socialmente. Por conta disso, o funk é uma das evidências da força da cultura e da música popular do Brasil.”

Também ouvida, a mestre em Música, Maria Juliana Linhares, aponta igualmente para o preconceito que o funk sofre. “O funk é rebaixado por setores da sociedade mais conservadores e até por outros setores que não são tão conservadores. Mas ele tem impacto social. Algumas pessoas rebaixam o funk, até mesmo formadores de opinião. Ele sofre preconceito, porém, a despeito do preconceito, ele avança. Tentam rebaixar o funk, mas ele prossegue.”

A musicóloga também aponta para a “demonização” (sic) do funk, que, assim como outros gêneros musicais ao longo da história, foram rebaixados a músicas que propagavam aspectos negativos. “Quando não há nenhuma ofensa à permanência da vida, não há porquê demonizar ou proibir determinado gênero musical. Mas as pessoas compram esse discurso de que o funk é feio, é coisa de vagabundo (sic), assim como fizeram com o samba no século passado. Normalmente, gêneros que vêm de populações pobres e negras sofrem isso”, acrescenta.

Maria Juliana contudo defende que o funk tem atualmente espaço dentro da esfera musical do país. Diferentemente do sociólogo Luiz Botelho, a especialista diz que o gênero está presente na música brasileira de forma geral, influenciando até mesmo outros ritmos. “Formas de composição e de produção musical do funk são muito copiadas no estúdio por artistas que não são do funk. As pessoas falam que não gostam de funk, mas estão lá ouvindo alguma produção inspirada nele. No Rock In Rio, que é um festival pautado pela internacionalidade, ele teve o seu espaço.”

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