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13 de janeiro de 2025

Alta no petróleo e instabilidade de preços: consequências da crise Rússia-Ucrânia para o Brasil

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No mesmo dia do ataque, preço do petróleo, por exemplo, passou dos US$ 100 pela 1ª vez em mais de sete anos. Economistas pontuam setores que podem ser comprometidos

Priscila Baima
priscila.baima@opiniaoce.com.br

Divulgação

Após semanas de tensão, países do Mundo inteiro começaram a última quinta-feira, 24, em alerta vermelho depois da Rússia bombardear várias cidades da Ucrânia, deixando mortos e feridos. E uma das consequências dessa invasão chegou também na seara da economia, não só a mundial, mas também a do Brasil.

No mesmo dia do ataque, o preço do petróleo, por exemplo, passou dos US$ 100 pela primeira vez em mais de sete anos. Sendo a Rússia um dos maiores produtores do ramo, o conflito militar reverberou diretamente no valor do barril.

“Antes da invasão, o barril custava cerca de 90 dólares. Depois dela, já subiu para mais de 100. Na medida em que a gente passa a comprar combustível mais caro, isso influencia no mercado local. A economia brasileira importa bastante combustível e isso tem um peso significativo sobre a inflação aqui no País”, pontua o economista Ricardo Coimbra.

Outro fator determinante para gerar instabilidade econômica para os próximos dias no Brasil tem a ver com os alimentos. Tanto a Ucrânia quanto a Rússia são produtores de grãos, como o milho e o trilho. Juntos, os dois países são responsáveis pela exportação de cerca de 30% do trigo comprado no mundo. Segundo o economista, o Brasil tem relações de consumo, principalmente de cereais, com os dois países em guerra.

“O conflito gera a possibilidade de elevação desses preços. Não só para consumo humano, mas também para fabricação de ração animal. A pecuária também é afetada, portanto”, avalia Coimbra. Para além do impacto no petróleo e na alimentação, o gás de cozinha, também exportado pela Rússia e Ucrânia, pode gerar um aumento da desigualdade social no Brasil.

Para o professor de economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fábio Sobral, a guerra pode causar um problema também social. “Com o gás de cozinha mais caro, eleva-se o nível de desigualdade e de dificuldade das famílias brasileiras que dependem desse mecanismo para poderem se alimentar”, alerta.

MAIS INFLAÇÃO E CRISE DIPLOMÁTICA
Não é de hoje que o Brasil vem sofrendo com o aumento da inflação. Para Eleutério Rocha, professor de economia da Universidade de Fortaleza (Unifor), a economia brasileira já vem apresentando, há cerca de uma década, “uma dificuldade em fazer crescimento econômico sustentado, alternando vários períodos com crescimento negativo ou nulo.”

Ainda segundo o economista, quanto menor o crescimento econômico, maior a inflação e, consequentemente, a elevação de juros pelos bancos. “Os bancos centrais do mundo e o Banco Central do Brasil praticam elevações de taxas de juros para conter a inflação. No entanto, é um remédio amargo porque produz desaceleração econômica, produz menos emprego, menos consumo, menos investimento”, elucida Eleutério.

Outro ponto a ser levado em consideração é a imagem internacional do Brasil em relação à guerra Rússia x Ucrânia. A visita do presidente Jair Bolsonaro ao presidente russo, Vladimir Putin, na semana passada, quando a comunidade internacional se esforçava para impedir uma guerra entre Rússia e Ucrânia, acometeu ainda mais um “vexame” econômico para o Brasil.

É o que conclui o economista Sobral. Segundo o especialista, a ida do presidente Bolsonaro ao país, numa fala de solidariedade à Rússia, pode afastar o Brasil ainda mais dos EUA. “Com isso, o presidente Bolsonaro pode entrar diretamente na guerra entre os republicanos e democratas, tendo aí escolhido um dos lados para
se confrontar.”

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