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18 de abril de 2025

Alece celebra a memória de Frei Tito de Alencar e a luta pelos direitos humanos

A deputada Larissa Gaspar, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Alece, recordou a história de vida de Frei Tito, que foi perseguido, preso e torturado pela ditadura militar
A ex-vereadora Nildes Alencar, irmã de Frei Tito, falou do crescimento, da relação na família e da iniciação na vida religiosa. Foto: Paulo Rocha/ Alece

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A Assembleia Legislativa (Alece) realizou, nesta sexta-feira (9), sessão solene em alusão aos 50 anos de morte de Frei Tito de Alencar e o homenageou pela atuação dele na defesa dos direitos humanos no Brasil. A solenidade foi requerida pelos deputados Renato Roseno (Psol) e Larissa Gaspar (PT).

Vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidania (CDHC) da Alece, a deputada Larissa Gaspar afirmou que a solenidade é uma ocasião para lembrar de todo o trabalho, legado e luta de Frei Tito pelos direitos humanos e pela democracia. A parlamentar recordou a história de vida de Frei Tito, que foi perseguido, preso e torturado pela ditadura militar. Por consequências do sofrimento físico e psicológico sofrido nesse período, ele desistiu da vida, em Lyon, na França.

“Frei Tito, apesar de toda a dor que estava vivendo e sofrendo, nunca se curvou ao opressor. Nunca cedeu à pressão e à dor imposta pela ditadura e a tortura. Como ele mesmo disse, é preferível morrer a perder a vida”, pontuou a deputada vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Alece.

A parlamentar petista ressaltou ainda que Frei Tito não foi apenas uma vítima da ditadura.

“Ele foi um mártir da ditadura, um herói brasileiro, uma pessoa que resistiu a tudo isso para que hoje se possa exercer a liberdade de manifestação, de cobranças e de viver em uma democracia. Embora a gente saiba que essa tortura ainda continua nos presídios, nas abordagens nas periferias, nos centros socioeducativos e em tantos outros espaços da nossa sociedade. Por isso, essa luta ainda não encerrou. Vivemos, sim, uma democracia, mas ela não é para todas e todos. Os direitos não são iguais e continuam a ser negados a uma parcela da nossa população. Por isso, precisamos continuar lutando para que os ideais plantados por Frei Tito nos inspirem a chegar a uma sociedade justa para todos”, observou Larissa Gaspar.

Para o presidente do Escritório Frei Tito de Alencar (EFTA) da Alece e da CDHC, deputado Renato Roseno, é importante não esquecer que, na década de 1960, agentes do Estado brasileiro foram responsáveis pela tortura de Frei Tito e até hoje não foram responsabilizados.

“Porque não houve memória, não houve acesso à verdade e nem à Justiça. Celebrar o martírio de Frei Tito é lembrar que ele testemunhou, com sua própria vida, seu corpo e integridade, a violência, a covardia, a coerência e a força. Força que vinha de sua paixão. É dessa força e testemunho que temos que beber”, pontuou Renato Roseno.

De acordo com parlamentar, o testemunho de Frei Tito está no EFTA, que atendeu, em 2023, 90 mil famílias que lutam por terra e território. “Que legado maior se não esse? Esse é um lugar de memória de Frei Tito, daqueles que abraçaram a luta dos direitos humanos. Esse é o testemunho dele, para que nunca se esqueça e nunca mais aconteça”, disse Roseno.

O presidente da Alece, deputado Evandro Leitão (PT), afirmou que o parlamento cearense, além do reconhecimento, tem gratidão e respeito pela história de Frei Tito. “Aquele que deu sua vida por nós, que, com muita fé, coragem e senso de justiça, enfrentou a ditadura. Um exemplo de dignidade humana, de luta, de enfrentamento de injustiças, mas que sempre, em sua perseverança, lutou até seus últimos dias”, enfatizou.

O chefe do Legislativo estadual destacou ainda o trabalho do Escritório Frei Tio de Alencar de Direitos Humanos da Alece e lembrou da inauguração da nova sede do EFTA, no dia 5 de julho, no município de Crato, que deve atender o Cariri cearense e regiões próximas. “Uma nova estrutura para que possamos acolher e fazer um acompanhamento jurídico daqueles que sofreram algum tipo de violência”, ressaltou.

A luta pelos direitos humanos e pelo fortalecimento da democracia, conforme o deputado De Assis Diniz (PT), não pode parar ou ser esquecida jamais. Tal objetivo, para ele, reforça que há momentos na vida que não se pode esconder-se. Segundo o parlamentar, o Brasil e o mundo passam por um momento em que esses princípios precisam ser preservados. “Temos de enfrentar, em toda fala e conduta, qualquer ameaça à democracia. A vida é plena e tem de ser vivida em abundância”, destacou.

MEMÓRIA

A ex-vereadora Nildes Alencar recebeu a homenagem alusiva aos 50 anos de morte do irmão. Ela falou do crescimento de Tito, a relação na família e a iniciação na vida religiosa. “Éramos uma família de 11 filhos, muito engajada. Passamos muita pobreza e situações difíceis. Mas, tudo isso dentro de uma amorosidade que formou dentro dele essas características que todos falaram aqui”, recordou.

Nildes Alencar entregou ainda ao deputado federal Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) o livro Morrer Para Viver – A Luta de Tito de Alencar Lima contra a Ditadura Brasileira, de Ben Strik, com uma dedicatória da família do homenageado.

O Pastor Henrique Vieira falou da emoção de ter recebido o convite para a homenagem.

“Frei Tito sempre foi um farol para sua vida, desde criança. Eu amo a vida de Frei Tito. Ele sempre foi para mim uma referência vocacional. Eu sinto saudades de alguém que eu não tive a oportunidade de conhecer. E é profundamente verdadeiro este sentimento. É como se ele fosse meu amigo. Sempre encontrei no Tito esse compromisso radical com a dignidade humana, com os pobres oprimidos e oprimidas do nosso povo. Essa fé profundamente engajada”, disse o parlamentar fluminense.

A sensibilidade de Frei Tito ao sofrimento das pessoas, segundo o Pastor Henrique Vieira, fazia com que ele que visse na dor do mundo o seu próprio mundo de dor, ao mesmo tempo em que não via no silêncio uma opção, tendo se colocado ao lado da resistência em favor dos pobres e da democracia.

O deputado fluminense leu ainda uma poesia que escreveu para Frei Tito. Entre os trechos, ele escreveu: “Meu coração de menino amou a sua vida e, sem te conhecer, eu te conheci. Sua fé e sua paixão me fizeram sentir que, mesmo na sua ausência, você está aqui. Eu ouvi a sua viola, li com a alma a sua poesia. Sua vida é farol, horizonte e utopia. Você, Tito, viu Cristo na rua, no rosto do pobre e do oprimido. Quem te torturou caiu no vazio, mas você jamais será esquecido”, declamou.

Maria Luiza Fontenelle, ex-prefeita de Fortaleza, foi militante ao lado de Frei Tito de Alencar. Segundo ela, eles saíam da Igreja do Rosário, no Centro, para os bairros da Capital, a pedido do padre Tarcísio Santiago, para olhar para os mais necessitados. Acrescentou que Frei Tito, apesar das represálias do regime militar e das torturas, não perdeu a fé, a paixão pelo que fazia.

“Ele não deixou de ser um ser humano grandioso, solidário, afetivo e dedicado à luta por uma nova sociedade. Como falar de Frei Tito sem falar em libertação, luta e esperança? Está dentro do nosso coração, que testemunhar Frei Tito é dizer que este mundo não é o que queremos viver. Este mundo de tanta destruição, barbárie, violência. É preciso lutar, porque não faz sentido viver com tanto sofrimento e falta de liberdade”, destacou Maria Luíza Fontenelle.

A mesa da solenidade reuniu ainda o deputado Missias Dias (PT); o vereador de Fortaleza Gabriel (Biologia) Aguiar (Psol); o promotor de Justiça Eneas Romero; a defensora pública-geral do Ceará, Sâmia Costa Farias; o superintendente do Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace), João Alfredo; o padre Ermanno Allegri, do Movimento Igreja em Saída; e a orientadora da Célula Memória, Verdade, Justiça e Reparação, da Secretaria dos Direitos Humanos do Ceará, Lúcia Rodrigues Alencar.

A sessão foi acompanhada por representantes de instituições que lutam pelos direitos humanos no Ceará, alunos da Escola Municipal Frei Tito de Alencar Lima, de Fortaleza, órgãos e por grupos da sociedade. A cantora Aparecida Silvino cantou o Hino Nacional e Eliane Brasileira interpretou o Pai Nosso dos Mártires.

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