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18 de janeiro de 2025

Água para beber e terra molhada

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Busque na memória imagens do sertão verde. É possível sentir o cheiro da terra molhada, a brisa leve e úmida afagando a pele queimada pelo sol. Busque na memória o som das quedas d’água no meio da caatinga. Córregos que estavam cobertos por areia e pedras, agora, recortam passagens molhadas pela água que chega de rios e açudes.

Funceme

Quem tiver a possibilidade de percorrer o interior nesse período encontra beleza bruta, natureza latente. As chuvas que banharam o Ceará com maior intensidade nos últimos dois meses fizeram a paisagem mudar. O armazenamento de água ganhou volume. Dos 155 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 36 estão sangrando. Alguns reservatórios chamam atenção pelo tempo que não atingiam a capacidade máxima. É o caso do Olho D’Água, em Várzea Alegre, no Centro-Sul cearense. Após 13 anos, o açude voltou a sangrar e esbanja armazenamento de 19 milhões de metros cúbicos de água.

Outra situação que chama a atenção é a dos milhares de açudes particulares – não gerenciados pela Cogerh – espalhados pelo Estado. Um levantamento da Funceme chegou a contabilizar quase 89.500 reservatórios em território cearense. Essas barragens são polêmicas, dividem opiniões. Alguns acreditam que elas são fundamentais para o armazenamento pontual, que garante maior descentralização da água. Outros entendem que as estruturas que ficam na rota de grandes açudes acabam “roubado água” e impedindo que ela chegue aos reservatórios estratégicos. Há ainda a questão da segurança de barragens. A maioria dos açudes particulares é construída sem seguir critérios rígidos de engenharia e, portanto, podem romper com grandes chuvas.

Problemas a parte, a verdade é que há o que comemorar. O cenário está mudando, a temporada de chuva não passa despercebida. A alternância climática, marcada por incertezas e instabilidade, aquietou o coração sertanejo neste ano. Há trabalho garantido para quem planta e lucro para quem vende. A segurança hídrica ainda não está assegurada, mas o sertão está molhado. Para muitos, isso basta.

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