Menos de 15 dias após a entrega do novo sistema para a Estação de Bombeamento 3, em Salgueiro, em Pernambuco, em julho, as águas do Eixo Norte da transposição do Rio São Francisco já chegaram ao Ceará. Em breve, as águas também devem abastecer reservatórios no estado da Paraíba. Com a volta do bombeamento da EBI-03, ocorrida no último dia 13 de julho, foram restabelecidos o nivelamento de água do reservatório de Negreiros, em Pernambuco, e depois o de Milagres e o de Jati, no Ceará.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco é a maior obra de infraestrutura hídrica do País. Com 477 quilômetros de extensão em dois eixos (Leste e Norte), o empreendimento visa garantir a segurança hídrica de cerca de 12 milhões de pessoas em quase 400 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, onde a estiagem é frequente.
“Por determinação do Governo Federal, nós trabalhamos intensamente neste semestre para que a estação voltasse a contribuir com a transposição do Rio São Francisco, seguindo seu curso de levar água a todas as pessoas na região”, explicou o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), Waldez Góes. “Estamos muito felizes em ver que as águas do Velho Chico já chegaram novamente ao Ceará”, completou.
O secretário dos Recursos Hídricos, Robério Monteiro, destacou a importância da agilidade na manutenção e a chegada das águas para o povo cearense. “O Governo Federal, através do MIDR, se propuseram a liberar o quanto antes as águas do São Francisco para o Nordeste. No Ceará, as águas do Velho Chico garantem uma maior segurança hídrica tanto para a região do Cariri quanto para Região Metropolitana de Fortaleza, pois seguirá do CAC para o Castanhão”, comentou.
CUSTEIO
Em reportagem publicado em 17 de junho, o OPINIÃO CE mostrou que o custeamento da manutenção e operação do maior projeto hídrico do país ainda carrega incertezas. Desde que as águas foram liberadas pela primeira vez, isso vem sendo discutido. Assim como a Paraíba, que também é beneficiada pelo Eixo Leste — inclusive evitando um colapso hídrico em Campina Grande —, o Ceará não pagou pelo recurso hídrico. Até agora, tudo tem sido custeado pela União.
O gasto maior é, sobretudo, a partir do bombeamento da água, feito por nove estações, somando os eixos Leste e Norte. O consumo calculado sería de 1 KWh por metro cúbico bombeado, segundo o professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Jerson Kelman, que foi presidente da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
A outorga da ANA, concedida em 2005, permite o bombeamento contínuo de 2 bilhões de litros por dia. Dessa época consta um termo de compromisso entre a União, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, no qual foi definido que a implantação do empreendimento seria responsabilidade do Governo Federal e os gastos de funcionamento pelos estados receptores. O OPINIÃO CE teve acesso, através do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), a uma tabela detalhada que mostra o custeio apenas do Eixo Norte, em 2023. De janeiro a junho, o gasto chega a R$ 123,2 milhões com a operação e manutenção do empreendimento.
PARALISÃÇÃO
A EBI-03 integra o Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco e estava paralisada desde outubro de 2022, em razão de problemas técnicos decorrentes da falta de reparos e de manutenção do sistema e em função de vibração excessiva de suas motobombas, que ocasionou desgaste nos rolamentos. As peças de reposição necessárias para o serviço de reconstituição do sistema de bombeamento chegaram em maio deste ano. Os investimentos para conserto e manutenção da motobomba chegaram a R$ 2,2 milhões.
A Barragem de Jati, localizada no município cearense de mesmo nome, é ponto de partida do Cinturão das Águas do Ceará (CAC). Todo o projeto do CAC tem 143 km de extensão, compreendendo segmentos de canal a céu aberto, túneis e sifões. Além da capital Fortaleza e Região Metropolitana, também receberão as águas do Cinturão cidades localizadas entre a Barragem de Jati e a Travessia do Rio Cariús.
Os demais reservatórios interligados pela EBI-3 estão em nível operacional e poderão atender os municípios com escassez de recurso hídrico caso haja solicitação do estado. “Estamos recuperando os níveis operacionais após a retomada da EBI-3 do Eixo Norte, pois, dessa forma, conseguimos garantir segurança hídrica aos reservatórios e, consequentemente, para a população”, destaca o coordenador-geral de Obras e Fiscalização do Projeto de Integração do Rio São Francisco, Tiago Portela
ESTRUTURA
A EBI-3 reúne um conjunto de motobombas, válvulas e acessórios interligados capazes de garantir um volume contínuo de transporte de água entre um poço de sucção e uma área de escoamento, por meio de tubulações forçadas, tudo isso acondicionado em um prédio com três pavimentos. A partir da EBI-3, as águas do São Francisco seguem, por meio de canais e reservatórios, até os estados da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, para abastecer a população.
As estações de bombeamento são estruturas responsáveis por elevar a água de um terreno mais baixo para outro mais alto. No Eixo Norte do Projeto São Francisco, existem três estações, com capacidade para impulsionar a água 188 metros acima do nível do São Francisco, altura que pode ser comparada a um prédio de 58 andares. A EBI-3 tem capacidade de bombear 24 mil litros de água por segundo. Hoje, mais de 7,6 milhões de pessoas em 222 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte são atendidas pelo trecho da estação EBI-3.