Essa semana vi pela TV várias cenas do jornalista Tim Lopes em atividade e assumindo outras identidades para a realização do ofício de jornalista. Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento – o Tim Lopes – repórter investigativo e produtor brasileiro foi assassinado de forma brutal no dia 2 de junho de 2002 por traficantes quando trabalhava em uma reportagem investigativa sobre o abuso de menores e o tráfico de drogas em um baile funk na favela da Vila Cruzeiro, na Penha, no Rio de Janeiro. Em reportagens da época, testemunhas narraram que o jornalista havia sido “sequestrado, torturado, julgado e executado pelos traficantes, comandados por Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco”. Na época, prevalecendo a ética do jornalismo, a TV Globo e demais telejornais não entraram em detalhes sobre a sua execução.
Algum tempo depois, por meio da mídia impressa, fiquei muito impressionado – ao ler sobre a forma e o detalhamento de sua execução. Seu “corpo tinha sido carbonizado numa fogueira de pneus, o chamado micro-ondas”. Obviamente, não irei entrar nas minúcias da tortura que precederam a sua morte. Nas aulas de história sobre a Mesopotâmia, hoje, o Iraque, na época do triste acontecimento, eu expliquei aos alunos sobre os assírios que habitavam aquela região do Norte. Lembro da pergunta de um aluno sobre se era verdade aquele terror empreendido aos vencidos pelos assírios. Sim, disse-lhe. Falei-lhe também sobre a cidade assíria de Nínive – o zigurate, o saneamento básico, dos templos, da sua estrutura e organização urbana invejável e da sua fantástica biblioteca. Que não eram apenas violentos como os livros didáticos narravam. Em verdade, os assírios possuíam um exército organizado com uma infantaria composta de lanceiros e arqueiros, carros de combate e catapulta etc. Por estarem em uma região de entrada, eram constantemente atacados, os despertando para a tal arte da guerra utilizando o terror como forma, como tática de dominação. Inclusive, na hora da aula, eu fiz a leitura de um documento histórico de uma inscrição do rei assírio, Assurpanípal II, o qual gabava-se dos seguintes feitos: “Mandei queimar muitos inimigos e conservei a vida a outros. Cortei os braços e as mãos a alguns deles. A outros cortei o nariz e as orelhas. Furei um olho a numerosos homens” e, por vai.
Ao terminar a explicação e a leitura do documento, como provocação perguntei-lhes: Afinal, quem é menos civilizado, os assírios (de 3.500 a.C.) ou traficantes da favela do século XX? Pois é, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) ou polícias comunitárias em favelas não conseguem desarticular quadrilhas, milicianos, o tráfico de drogas e a violência cotidiana. Em vez de armas, não seria melhor levar – escolas, Universidades, saneamento básico, saúde e arte as favelas. Tim, vinte anos se passaram, mas o Estado e os políticos buscam apenas fazer um processo de gentrificação, uma espécie de “enobrecimento” nas favelas, inclusive chamando-as agora de Comunidades.