Há 20 anos, por aí, “tempos de vacas gordas”, quando ainda vendia um monte de aulas a colégios e cursinhos, antes de enviar a declaração de imposto de renda, a contadora chamou-me e disse: “Professor, o seu imposto é muito alto. O seu sócio, o governo, leva 40% do seu salário. É melhor o senhor deixar um dos empregos e ficar em casa. O senhor está sustentando umas seis ou mais famílias”. Por um minuto, fiquei ali, calado e disse-lhe: “Que país estranho, que incentiva o cidadão a não trabalhar!” Fui para casa matutando. Pago imposto sobre salário e não sobre renda e os empresários pagam bem menos, sem falar na turma que sonega a perder de vista. E as taxações sobre as grandes fortunas e heranças? Ano passado, nos meses que antecedem a prestação de contas com o “leão”, conversando com três empresários, ouvi: “Você e outros professores pagam tudo isso de imposto de renda? Não, a gente não paga. A gente tem jeito para isso”. E ainda saíram com essa: “É por isso que esse país não vai para frente”. Fiquei ali, observando e pensando: “É, a tal da classe média decadente e os menos abastados, os escravos do capitalismo tupiniquim, que sustentam a luxúria e as benesses dessa dita elite”. A Receita Federal, na tentativa de reduzir as sonegações do imposto de renda, acabou provocando um problema para o governo. De acordo com o texto da Receita: “As movimentações globais ou saldo, em cada mês, por tipo de operação, teriam de ser informados à Receita quando ultrapassassem R$ 5 mil (para pessoas físicas) e R$ 15 mil (pessoas jurídicas)”. Em verdade, esses limites já existiam e eram menos restritos: R$ 2 mil e R$ 5 mil, respectivamente. A medida poderia até ter boas intenções, mas a toda poderosa Receita Federal inquestionável e que sempre tem razão, agora, não foi questionada por juristas ou advogados, mas pelo “povo”. As declarações de Mark Zuckerberg sobre o encerramento do programa de checagem de fatos, ou seja, “os comentários sobre a precisão do conteúdo das postagens seriam deixados a cargo dos próprios usuários”, por aqui, continua a fazer estragos com fake news e a disseminação de notícias falsas que viralizaram nas redes sociais como pragas, ao afirmarem que o governo taxaria as transações via Pix. O que não era verdade, inclusive porque seria uma medida inconstitucional. A turma da Receita Federal só esqueceu de um pequeno detalhe, os dados do IBGE: “O número de trabalhadores informais no Brasil em agosto de 2024 foi de 39,826 milhões, o que representa um recorde histórico”. Ou seja, esqueceu dessas trabalhadoras e trabalhadores que vendem o churrasquinho na esquina, da turma do sanduíche, água, refrigerantes e cervejas nos estádios, dos camelos, das “garotas de programa” que recebem em Pix e, em alguns casos, ultrapassam R$ 5 mil por mês. Em 1951, Vargas, tentado satisfazer os interesses da burguesia e do povo que os apoiaram, não gostou da atitude de um setor da burguesia ao elevar o preço dos gêneros de primeira necessidade para o povo. Irritado com essa burguesia, no 1º de maio, discursou: “Não voltei para pescar sardinhas, mas para fisgar tubarões”. Vargas acabou sofrendo muita pressão dessa elite. Pois é, a Receita Federal queria fisgar os tubarões (os sonegadores), mas acabou assustando as sardinhas (o povo do Pix) e o governo sofrendo muita pressão. Ainda bem que, assim como Vargas, ao contrário de outros presidentes, Lula também se preocupa e gosta de falar aos trabalhadores, recuou.

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As vagas autorizadas são para o cargo de delegado, perito criminal federal, agente, escrivão, papiloscopista