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17 de fevereiro de 2025

A magia dos dias chuvosos

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*A gravura experimental, na pedra mármore como matriz, é obra do artista plástico cearense João Paulo José da Silva. No Instagram, ele publica no perfil @jp.artesubjetiva

A chuva tem um poder mágico sobre as pessoas. Tem gente que nesses dias aproveita para se aconchegar nos lençóis. Abraçar mais apertado quem dorme junto e divide a mesma casa. Se não for dia de trabalho ou de escola, enrola mais para despertar. Evita sair de casa. Toma um café da manhã mais demorado, olhando para a festa lá fora, das águas e insetos. 

Quando começa a chover, logo meu apartamento começa a receber hóspedes para uma estadia que geralmente pode demorar até três dias. Recebemos mariposas de vários tipos, esperanças, libélulas, vaga-lumes, marimbondos e até um louva-a-deus. 

Não sei porque eles escolhem o meu apartamento. Moro no terceiro andar e na beira de uma rodovia federal. Deve ser porque eu não perturbo os bichinhos. Deixo que fiquem o tempo que precisarem. Seria incapaz de matar. Isso deve se espalhar na rede de informações dos insetos. Um indica para o outro: – se estiver cansado, entra lá naquele apartamento da grade branca. Tem um tapete de flor na porta. É fácil de achar! 

No entanto, os marimbondos eu não acolho bem, vou logo pegar o cabo de vassoura para espantar. Uma vez, avistei um no teto do quarto e não quis perturbar, imaginando que ele também não me incomodaria. Me enganei. De madrugada, o infeliz caiu na cama e ferroou minha panturrilha. Acordei no susto da dor. Me deu uma raiva!

Dias de chuva também são perfeitos para se fazer de criança e sair tomando banho nas bicas. No início, a água dói no corpo, fria, com força. Depois, a pele acostuma com o geladinho. O ruim, no meu caso, são os óculos molhados. Ou eu tiro e fico míope ou aguento a vista cheia de pingos. Esse ano, eu já tomei o meu banho de chuva. No condomínio, caminhando. Forças renovadas para a semana.

Respeito quem prefere se isolar e se entristecer nos dias de chuva, mas eu sou das que prefere calor humano. Nos dias molhados, eu fico tal qual os gatos quando chegam perto dos donos. Doida por um carinho. Ainda bem que eu tenho meus filhos por perto. Esses são dias de muitos beijinhos e abraços. A “amância”, nosso neologismo para o jeito de dar carinho, se torna mais intensa. 

Economizar afeto nunca foi com a gente. Tomara que eles levem essa lição para a vida e encontrem quem retribua.

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