No sétimo dia da invasão da toda poderosa Rússia na Ucrânia, um telejornal evidencia a guerra ao vivo e a cores, mas duas cenas fizeram-me sentir uma profunda comoção e tristeza. Lá estava uma senhora ucraniana inquirindo um paramentado soldado russo sobre o por que “dele está invadindo o seu país e destruindo a sua casa.” Em outra cena, um senhor ucraniano, no meio de uma rua com prédios destroçados pelos bombardeios, exigindo de dois soldados explicações: “Por que, vocês não respeitam o meu país como eu respeito o de vocês”?
Mais tarde, pelo rádio, escuto a informação de um soldado russo rendido, dizendo ter sido engando pelo governo do seu país, pois não sabia que era para matar gente inocente. Pensei: ‘isso é ingenuidade, desespero!’ Em seguida, no parlamento britânico, ouço o primeiro ministro Boris Johnson discursando: “Putin é um ditador e tem que ser punido por crime de guerra.”
No oitavo dia de ocupação, em entrevista coletiva, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse ter alertado e pedido sanções à Rússia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) antes da invasão, deixando nas entrelinhas ter sido abandonado pelas potências ocidentais. Pois é: não se cutuca onça com vara curta! Creio que a senhora e o senhor ucraniano do referido telejornal não conhecem as motivações, os interesses envolvidos nas guerras e suas consequências tão bem explicados pelo dramaturgo e poeta alemão, Bertold Brecht, que já nos alertava em seu poema:
“Na guerra muitas coisas crescerão/ficarão maiores/As propriedades dos que possuem/ E a miséria dos que não possuem/As falas dos guias/E o silêncio dos guiados.”
De fato, o ditador Putin tem que ser punido por crime de guerra – ninguém tem dúvida. Mas como computar o terrorismo feito pelo governo norte-americano ao Estado iraquiano sob a alegação de que teria armas químicas? Inocentemente, milhares de homens, mulheres e crianças foram mortas no Iraque. Então, qual seria a pena para George W. Bush, por terrorismo e por crime contra a humanidade? Algum desavisado pode argumentar: “Era outro tempo e outras motivações.” Todavia, não podemos esquecer que eram vidas humanas. Ou vidas têm valores diferentes, dependendo da geografia e da etnia? E agora, José?