Acreditem! No último domingo, 1 de junho, dia dos namorados, eu estava vendendo aula no período da manhã. Que semana hein! No sábado, eu e os queridos alunos fomos ao Centro Histórico bater um papo sobre a história, a arquitetura e o urbanismo da nossa querida cidade rememorando, ali, a segunda metade do século XIX, quando a riqueza da cotonicultura bateu à porta de uma elite que tentou afrancesar a urbe ou como bem escreveu o historiador Sebastião Rogério Ponte: “A Belle Époque em Fortaleza: remodelação e controle”. Por outro lado, antes, no começo do percurso, eu fiquei muito feliz de ver dois ônibus de escolas públicas e os alunos de forma lúdica visitando e conhecendo aquele espaço de memória, o Passeio Público. É estranho como os alunos, inclusive os da Universidade, não conhecerem a nossa história.
Mas, isso é outro papo. Feito o percurso – Catedral, Praça General Tibúrcio (Praça dos Leões), Museu do Ceará, Praça do Ferreira, Estação João Felipe (hoje, Estação das Artes Belchior), finalizamos a visita técnica no restaurante do Passeio Público. Ao observar ao redor, comentei com o amigo Romeu: “Gente bonita de novo andando por aqui!!”. Fiquei pensando quanta memória carrega esse espaço, inclusive da concepção e criação da praça, segundo Ponte: “Atração imperdível às quintas e domingos, o Passeio Público lotava-se de gente elegante para mostrar as últimas modas chegadas no dernier bateau (último navio) vindo da Europa.
A banda municipal embalava os namoros, os flertes e o borboletear de um lado para outro dos passantes”. Não tinha como não lembrar dos cearenses que lutaram na Confederação do Equador e que ali foram executados. Ali, também em meados dos anos 80 e 90, no local se disseminou a mendicância, a prostituição e cabarés que se apropriaram do entorno da praça. E, agora, quanta gente bonita!
No intervalo da aula, dia dos namorados, não sei por qual motivo, mas veio a lembrança de um domingo, 1 de maio em 1994, dia do trabalho – lá estava eu dando aula de pré-vestibular. Ao finalizar o encontro e já descendo a escada, o Pinheirinho, o funcionário que distribuía os TDs, assustado e com os olhos arregalados, diz: “Professor, o Ayrton Senna bateu o carro. Ele vai sobreviver!”. Em seguida, a cena foi reproduzida na tv. Ao ouvir os comentários e observando a cena, peguei no ombro dele e disse: “Amigo, com essa velocidade, ele já está morto”.
Ainda bem que hoje, ao finalizar quase quatro horas de aula, com as candidatas professoras ao concurso público, eis que recebo elogios pelo encontro e, no estacionamento, digo para elas: O que nós estamos fazendo aqui nesse horário, no dia dos namorados? Será que nos esqueceram? E, de pronto, uma senhora responde: “Isso que dá ser bom professor!” e a outra completou: “Você é legal, não pode ser esquecido”. Cá com meus botões, pensei: “Como é bom tocar um instrumento”, mas também “como é bom dividir o conhecimento”.