Na última sexta-feira, acompanhando um conceituado programa esportivo, vi um debate a respeito da invasão ao Centro de Treinamento do Botafogo-RJ, onde jogadores e comissão técnica foram ameaçados devido a resultados ruins da equipe em algumas rodadas do Brasileirão. Um dos comentaristas culpou o novo modelo de gestão dos clubes, a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), pelo caso. Ora, se fosse um acontecimento recente, talvez houvesse algum fundamento na alegação, mas esse tipo de incidente é quase tão antigo quanto o próprio futebol em terras nacionais.
De acordo com o jornalista, a sensação de sentir que o clube tem um “dono” e pertence menos à torcida seria o principal motivador. Apenas em 2022, times como Flamengo, Bahia, Grêmio e Fortaleza sofreram ações de hostilidades e até violentas de torcidas organizadas. Nenhuma dessas equipes possui o modelo de SAF. Com relação à sensação de se acreditar pouco “empoderada” com clubes que possuem donos, que empoderamento cartolas que vivem de decisões políticas e eleitoreiras passam aos seus torcedores?
O Botafogo, por exemplo, até outro dia era praticamente uma massa falida, penando entre Série A e Série B, sem vislumbre de melhora, muito por conta da gestão – ou falta dela – no modelo tradicional do futebol brasileiro. O que salta aos olhos é a má vontade e a cultura, inclusive com cunho ideológico, de rechaçar projetos com viés de ganhos econômicos, como se fosse crime gerar lucro, ganhar dinheiro. O futebol, há muito tempo, é um negócio. Sim, envolve paixão, mas quem disse que paixão e lucratividade são fatores excludentes? Se a equipe se organizar financeiramente, ganhar títulos e der retorno financeiro aos seus investidores, quem perde com isso? Além do discurso “anticapital”, ninguém.
Mas, como já tratei neste mesmo espaço outro dia, as análises estão contaminadas de paixões escusas à esportividade. Nunca foi tão necessário, em época onde os discursos ideológicos contaminam praticamente todos os espectros sociais, se munir de informação, conhecimento e senso crítico para tentar ficar imune ao que se traveste de crítica legítima, quando na verdade é apenas cumprimento de uma determinada agenda.