Quando o presidente Bolsonaro subiu ao púlpito da ONU, a mais importante tribuna do mundo, e começou a falar, eu estava entre Santa Quitéria e Canindé com o rádio do carro ligado. O locutor fazia enquete sobre a visita de Bolsonaro aos Estados Unidos e perguntava se o presidente iria mesmo falar mal dos ministros do STF, dos deputados, senadores, governadores e dizer que quem era vacinado correria o risco de virar jacaré ou falar fino.
Me surpreendeu a resposta do agricultor Tarcísio Sousa, produtor rural nos sertões de Canindé. Disse ele: “Bolsonaro governa para seus seguidores na internet e promove desgoverno para o restante da nação”.
O agricultor não respondeu a pergunta, tentou impor sua opinião sobre o mandatário da nação. Confesso que fiquei surpreso com a fala do homem simples que concluiu dizendo ser a opinião de um “matuto”. O locutor insistiu sobre a visita a Nova York e o ‘matuto’ respondeu: “é uma agonia”. No dicionário popular nordestino, agonia significa aflição, confusão, complicação, falta de segurança, pressa, desorganização, destrambelhamento.
Ouvi o discurso do presidente, ele não acrescentou nada ao roteiro diário do cercadinho na saída e retorno do Alvorada. Discursou para os seus seguidores mais uma vez. Para os brasileiros e o mundo exibiu uma imagem de absoluto despreparo, ao prestar contas de forma positiva sobre combate a queimadas, afirmando que a lei ambiental é a melhor do mundo, que protege índios. Ora, Bolsonaro mandou tocar fogo na Amazônia, quer expulsar índios das suas terras e não cumpre a lei ambiental protegendo madeireiros e criminosos do agronegócio.
Disse ser um grande vacinador. Além de não ter se vacinado, só comprou imunizante quando viu o mundo vacinar e até hoje os governos estaduais e prefeitos brasileiros travam briga com o Ministério da Saúde por mais vacina.
Bolsonaro se queixou de problemas internos do seu governo para os gestores do mundo, falando mal de governadores. O mundo não entendeu porque um chefe de nação não consegue resolver problemas de relacionamento.
Saindo do discurso sem peso, voltamos ao ‘matuto’. Bolsonaro deixou o Brasil levando dois aviões lotados de ministros, jornalistas, assessores, seguranças e a família. Não pode comer em restaurante, fez refeições na rua. Em Nova York, dentro do restaurante, só pode ficar quem foi vacinado. Entrou no hotel pela porta dos fundos, foi vaiado, cercado por manifestantes e fugiu.
Dos 100 presidentes que passaram pela ONU é o único que não aceitou e nega a vacina. Bolsonaro vendeu a imagem de que é mais inteligente que a ciência. Tomara que o mundo não veja o presidente brasileiro como um amalucado. Seria triste. Na verdade, ele agradou seus internautas, seguidores das redes sociais. Deve estar aferindo a audiência no contador de adeptos.
O ‘matuto’, depois de ver e ouvir toda agonia produzida pelo presidente em Nova York, deve estar chamando Bolsonaro de “Ciço”.