No último 7 de setembro, lá estava eu na Avenida Beira-Mar. Agora, professor universitário com titulação (e daí!?) e candidato político. Na noite anterior, sexta, eu estive percorrendo o bairro universitário e os bares do Benfica. Ao observar o povo diante do desfile, pensei: “Por que aquela turma boa de ontem não se faz presente? Por que os moradores das favelas e comunidades não sentem esse patriotismo? Por que os prédios da tal avenida do desfile estão de janelas abertas e receptivos? Cadê as escolas e suas bandas com estudantes e professores bem alinhados e alegres?” Confesso que veio aquela sensação de profunda tristeza, de estranhamento e de muita memória afetiva e os olhos marejaram.
Senti-me no início do ano de 1975, ali, na Avenida Aguanambi levado pelos padres salesianos para recepcionar com bandeirolas o presidente militar Ernesto Geisel e no desfile tocando trompete na banda da mesma escola do 7 de setembro daquele ano. Hoje, diante do acirramento político, estranhamente lá estava nos jornais e nas redes sociais depoimentos de juízes e representantes da câmara e do senado: “A Independência merece orgulho e honra de todos os brasileiros e brasileiras”, “Por festejos pacíficos nas ruas e respeito à democracia”, “Pela celebração do amor à pátria e o Estado de Direito” e ainda, “Os fascistas não irão tomar a nossa bandeira! Viva o Brasil!”.
Na semana seguinte recebi vários vídeos criticando as aulas e as argumentações ideológicas de professores de história e a crítica da construção de livros didáticos de história do Brasil escritos por professores e intelectuais por desvalorizarem os heróis e os grandes homens que fizeram e deram a vida pela nossa história. Para quem sabe foi no Segundo Reinado, ali, no século XIX, que o país passou por um processo de construção e consolidação da nossa identidade nacional como nação. Pois muito bem. ngelo Agostini publicou na revista ilustrada 1882 para as comemorações do 7 de setembro – um índio e um negro aprisionados em uma jaula.
Pois é, o referido artista e sua arte crítica, refere-se aos limites dessa libertação para escravos e índios ocorrida na data de 7 de setembro de 1822. Pois é, só existe a escrita da história com documentos. O resto é ficção.